Resumo |
INTRODUÇÃO: O sofrimento psíquico se apresenta sob diversas formas na Atenção Primária à Saúde (APS), seja como condições de caráter leve a moderada ou como transtornos graves e persistentes. A primeira apresentação e mais prevalente é conhecida como Sofrimento Mental Comum (SMC), uma síndrome clínica caracterizada por sofrimento mental que apresenta três dimensões de sintomas que se combinam: tristeza/desânimo, ansiedade e sintomas físicos. Médicos e Médicas de Família e Comunidade, especialistas para atuar na APS, tem posição privilegiada para prestar cuidados em saúde mental, e estudos evidenciam que a maior parte das condições de saúde mental são manejadas exclusivamente por profissionais da APS e não pelos especialistas focais em saúde mental. OBJETIVO: Investigar o processo de ensino-aprendizagem e a abordagem do SMC em programas de residência em Medicina de Família e Comunidade (MFC) de Minas Gerais (MG) a partir da percepção de residentes e preceptores. MÉTODOS: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo descritiva-exploratória. A coleta de dados ocorreu em ambiente virtual, por meio de videoconferência, com oito preceptores e oito residentes de três programas de residência médica em MFC do estado de MG: o programa da Universidade Federal de Ouro Preto, da Universidade Federal de Viçosa e do Hospital Metropolitano Odilon Behrens. Foram realizadas entrevistas orientadas por roteiros semiestruturados de aprofundamento elaborados pelos pesquisadores e entrevista projetiva, a partir de uma situação clínica criada pelo pesquisador. A análise dos dados foi realizada a partir dos princípios de análise de conteúdo temática segundo Braun e Clarke. RESULTADOS: A pesquisa encontra-se na fase de finalização da análise dos dados, mas já permite realizar alguns apontamentos. A maioria dos entrevistados refere conhecer um número limitado de intervenções psicossociais e se percebe com competência limitada para utilizar as ferramentas consolidadas na abordagem do SMC. Em relação aos dificultadores na abordagem do SMC foi relatado, com frequência, a grande pressão assistencial nos locais de trabalho. Nota-se, a partir das falas, lacunas importantes na formação durante graduação e residência. Entre os poucos participantes que disseram se sentir mais confortáveis e seguros para abordagem do SMC nota-se um papel importante da graduação, por meio de iniciativas de docentes sensíveis ao tema. Um sentimento comumente relatado foi a sensação de “carga emocional pesada” durante essas consultas. CONCLUSÕES: É necessário o aprimoramento da formação em relação ao SMC, a partir da adequação dos currículos dos programas de residências de MFC e da graduação em medicina, bem como a capacitação dos preceptores. Sugere-se que os programas de residência médica em MFC fomentem o desenvolvimento de competências para a abordagem de SMC, formando profissionais também com habilidades para o manejo não farmacológico dos transtornos mentais. |