Resumo |
Este relato de percepção foi desenvolvido por estagiários do serviço Semente que constituem a equipe multidisciplinar responsável pela realização de oficinas de cunho artístico. O Serviço Agros de Atenção à Saúde Mental (Semente) foi criado em 2004 pelo Agros - Instituto UFV de Seguridade Social, tendo como público alvo beneficiários do plano de saúde com transtornos mentais graves e maiores de 18 anos. Atualmente, a equipe atende 16 usuários, homens e mulheres, entre 28 e 75 anos. Os profissionais integrantes da equipe técnica são das áreas da psicologia, psiquiatria, serviço social, enfermagem e educação física, e os atuais estagiários (responsáveis pelas oficinas) são graduandos em arquitetura e urbanismo, psicologia, dança e cooperativismo, vinculados à UFV e à Univiçosa. As oficinas multidisciplinares têm como nortes o projeto terapêutico do serviço e os planos terapêuticos singulares. Nelas, desenvolvem-se atividades de pintura, colagem, escultura, escrita, leitura, dança, atividade física, além de discussões e deliberações sobre o serviço. As oficinas de criação e escritas têm por objetivo trabalhar a criatividade e ampliar horizontes, despertar a curiosidade dos pacientes acerca dos materiais e fortalecer a capacidade de elaboração e expressão de vontades e sentimentos. Nas reuniões de comunidade, os usuários expressam suas opiniões, escutam uns aos outros e constroem soluções para os conflitos, além de abordarem temáticas referentes à vida cotidiana, como questões de cunho econômico, político e social. Em uma perspectiva terapêutica, as oficinas de expressão corporal são processos educativos pelo movimento, instauração do diálogo tônico-corporal, olhar, gestos e posturas, mímicas e imitações entre outros instrumentos. Este trabalho busca evidenciar, a partir da percepção dos ministradores das oficinas, como as práticas artísticas contribuem para o aumento da autonomia e autoconfiança dos indivíduos, a construção de senso de responsabilidade e coletividade, o enfrentamento de estigmas e a maior participação e adesão a tratamentos médicos e psicológicos. A relevância do serviço e deste tipo de análise se dá principalmente pela proximidade geográfica e cronológica de passados tão violentos como o do Hospital Colônia de Barbacena, e reforça a urgência e importância da luta antimanicomial. |