Resumo |
A Tristeza Parasitária Bovina (TPB) compreende duas enfermidades: a babesiose, causada pelos protozoários Babesia bigemina e Babesia bovis, e a anaplasmose, causada pela bactéria Anaplasma marginale, sendo ambas transmitidas pelo carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus e responsáveis por grandes prejuízos econômicos, resultantes de perdas de produção, gastos com medicamentos e morte de animais. O objetivo desse trabalho é relatar um surto de TPB ocorrido em bovinos pertencentes a um rebanho da raça holandesa em sistema semiconfinado, localizado no município de Natércia– MG. No manejo geral da fazenda as bezerras eram criadas em galpões fechados e recriadas em piquetes até o parto. Durante a lactação ficavam em compost-barn, mas voltavam para piquetes durante o período seco. O surto ocorreu durante o mês de novembro de 2021, ocasião em que houve alta infestação de carrapatos nos piquetes destinados aos animais. Ao todo adoeceram 31 bovinos, sendo 25 bezerras na fase pós desmama e 6 vacas em início de período seco. Todos os animais acometidos apresentavam infestação evidente por carrapatos e ao exame clínico foram observados os sinais clássicos de TPB como apatia, febre, mucosas anêmicas e ictéricas. Amostras de sangue foram submetidas ao teste rápido para hematócrio e hemoglobina total (Hemovet), sendo constatadas anemia branda a moderada em todos os casos. Devido a vários aspectos circunstanciais como a indisponibilidade local de exames específicos e à necessidade de tratamento imediato, somados às evidências epidemiológicas e dos sinais clássicos da TPB, optou-se pela abordagem terapêutica indiferenciada, abrangendo a babesiose e a anaplasmose. Em cada animal foram feitas duas aplicações de enrofloxacina (7,5mg/kg IM) e de diaceturato de diminazene (3,5mg/PV IM), ambas em intervalo de 48h. Todos os animais se recuperaram em 3 a 5 dias após o início do tratamento, sem nenhum agravamento de caso ou morte. Como medida de controle de vetores da TPB foram aplicados fluazuron e abamectina (Fluatac Duo Pour-On, 1ml/10kg/PV) nos animais jovens e eprinomectina (Eprinex Pour-On 1ml/10kg/PV) nos animais em pré-parto. Sistemas de exploração leiteira onde as bezerras são criadas em casinhas individuais dentro de galpões e após a desmama vão para piquetes, e quando adultas, após o parto, ficam confinadas em compost-barn durante a lactação, mas vão para piquetes durante o período seco, devem ser considerados pelo veterinário como “áreas de instabilidade enzoótica” para a TPB. Nesse sistema de manejo, comum em nossos rebanhos, a maioria das bezerras é suscetível à TPB, com elevada morbidade, sendo frequentes os casos clínicos. As vacas, apesar de ficarem imunes quando bezerras, podem novamente tornarem susceptíveis se a lactação for prolongada (flutuação da imunidade), ou se enfrentarem alta infestação de carrapatos nos piquetes durante o período seco (alto desafio). Isso torna o monitoramento intensivo imprescindível para manter a saúde do rebanho. |