Resumo |
Publicada originalmente em 1956, a coletânea Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa, reúne sete novelas que abordam, dentre outros, temas relacionados ao processo de modernização do sertão norte-mineiro à época. Desse modo, os personagens que as permeiam vivenciam questões originadas tanto da estruturação socioeconômica e cultural da região em que se passam as narrativas, quanto aquelas relacionadas às suas vivências e subjetividades, fazendo com que, nos enredos, o contexto sócio-histórico influencie diretamente os conflitos e dilemas apresentados pela obra. Pode-se pontuar, nesse sentido, que a sociedade retratada pela coletânea se estrutura a partir das normas e valores patriarcais, sendo evidente a existência de uma divisão social do espaço entre os gêneros, cabendo à mulher, via de regra, a constante permanência no âmbito do lar; enquanto ao homem é dada a possibilidade de transitar entre a casa e os espaços públicos. Do mesmo modo, a vida íntima dos personagens é regrada por uma dupla moral sexual, que permite ao homem o pleno desfrute de seus desejos carnais, enquanto à mulher é exigida a castidade e repressão de sua sexualidade. Ainda assim, não são raras as personagens femininas que transgridem o padrão de moralidade imposto a elas, sendo suas ações discordantes da mentalidade patriarcal motores que engendram modificações em suas vidas; reverberando também em meio às comunidades em que estão inseridas; indiciando graduais transformações sociais e culturais no sertão recriado pelo escritor. Partindo do exposto, nosso objetivo consiste em analisar a representação social de determinadas personagens femininas presentes nas novelas “Campo Geral” e “Buriti”, investigando a natureza e as repercussões das transgressões perpetradas por elas. É válido destacar que nosso recorte abarca personagens caracterizadas como mulheres brancas, privilegiadas social e economicamente e que, em sua maioria, possuem alguma vivência citadina. Os principais referenciais teóricos e críticos utilizados para a realização do estudo consistem em Bataille (1987), Pateman (1993), Lima (1999), Freyre (2003; 2013), Roncari (2004; 2013), Del Priore (2006), Soares (2007, 2008), Zilberman (2009) e Sena (2010). |