Resumo |
O Twitter, criado em 2006, emerge como um local de ressonância de temas e discussões que repercute e ganha diferentes desdobramentos gerando um tipo de efeito na opinião dos indivíduos a respeito dos temas em discussão. A rede social possui forte interface com a comunicação política, de modo que suas potencialidades já vem sendo recorrentemente alvo de pesquisas, especialmente dentro das articulações e estratégias de atores políticos. Entre uma das discussões, em 2020, surge uma pergunta: “Sua avó entende sua tese?”. A princípio, seu intuito era convidar pesquisadores e pesquisadoras a refletirem sobre o distanciamento social da produção científica. Contudo, a construção da frase revela pontos interessantes sobre a comunicação pública da ciência. Esta não é a primeira vez que esta formulação aparece: o Science Blogs Brasil, plataforma vinculada à Unicamp, lançou em 2013 o prêmio "Explique sua tese para a vovó", na qual convidava pesquisadores a explicarem seus trabalhos sem o “jargão acadêmico” de uma maneira que "até sua avó" entenderia. Os elementos extradiscursivos que revelam diferentes níveis de divisões entre quem pode fazer parte da ordem do discurso e quem permanece fora de um espaço previamente definido como “comum” podem ser vistos neste questionamento. É dessa forma que, tomando a emergência midiatizada dessa polêmica no âmbito do Twitter, esse trabalho busca refletir a) como o discurso sobre produção e circulação científica no Brasil contribui para os dilemas e eixos assimétricos de relações de poder historicamente constituídas; b) como os produtores de ciência se relacionam com outros saberes; c) em que medida este meme permite a nossa observação de uma cena enunciativa sobre a própria ciência no contexto do Twitter; d) e como a comunicação pública da ciência surge como um lugar do dissenso e da emergência de sujeitos políticos pela ótica de I) obras que discutam a interação entre ciência, sociedade e espaço público; II) textos que abordam relações conceituais entre o sistema de comunicação pública e a midiatização; III) trabalhos que nos ajudam a discutir a comunicação pública da ciência como lugar do dissenso, da polêmica e da emergência de sujeitos políticos. Para realizar as análises e a coleta do corpus, contamos com a metodologia do paradigma indiciário, fundamentado pelo pesquisador José Luiz Braga, em que a comunicação é posta como uma ciência interpretativa. Após realizar as reflexões aqui apresentadas, esta pesquisa pretende produzir dois artigos como resultados das discussões: I) Investigar a emergência de sujeitos políticos no contexto dos tweets acima mencionados a partir de polêmicas que denunciam desigualdades na relação entre ciência e sociedade; II) Analisar a emergência de uma cena polêmica no que se refere à divulgação científica e à emergência de sujeitos políticos cientistas e sujeitos políticos jornalistas. |