Resumo |
De ocorrência rara em cães, a torção esplênica acomete principalmente cães de grande porte, de alta atividade e raças de tórax profundo. A etiologia desta condição primária é desconhecida, mas segundo a literatura, acredita-se que esteja relacionada à torção/dilatação gástrica parcial ou de resolução espontânea, em que o estômago retorna à posição normal, enquanto o baço se mantém rotacionado ou tem seus ligamentos afrouxados, predispondo a torção do mesmo. O diagnóstico é feito por ultrassonografia em conjunto ao doopler colorido. Os sinais clínicos e exames laboratoriais são inespecíficos. Objetiva-se relatar o caso de um cão macho, Fila Brasileiro de 6 anos de idade, que vive em um ambiente rural, muito ativo, e que recebia alimentação apenas uma vez ao dia no período da noite. Apresentava histórico de emagrecimento, hiporexia há sete dias e abaulamento abdominal. Os exames laboratoriais identificaram discreta anemia normocítica normocrômica, leucocitose por neutrofilia com monocitose e desvio a esquerda de 8%. Ao exame ultrassonográfico foi possível identificar o baço com dimensões acentuadamente aumentadas, contornos irregulares com ecogenicidade reduzida e ecotextura heterogênea devido a áreas amorfas hipoecogênicas, além de linhas hiperecogênicas entremeadas. Na região de hilo esplênico não havia fluxo sanguíneo e o estômago encontrava-se deslocado para a direita, com presença de discreto conteúdo gasoso intraluminal, paredes normoespessas, com evidenciação da estratificação parietal. O paciente foi submetido a laparotomia exploratória, onde se confirmou a torção esplênica. Os vasos esplênicos estavam torcidos e o omento estava extremamente aderido à toda superfície do baço. A esplenectomia foi concluída após a ruptura das aderências e ligadura dos vasos esplênicos, sem que a torção tenha sido desfeita. O estômago encontrava-se dilatado, porém, não havia torção gástrica. Foi realizada a gastropexia incisional na parede abdominal direita para evitar possível torção gástrica no futuro já que é uma raça propensa e de hábitos que também a favorecem. Durante o transcirurgico, o paciente foi submetido a transfusão devido à relativa perda sanguínea no procedimento. Seus exames laboratoriais pós procedimento apresentaram melhora, porém ainda havia discreta anemia normocítica normocrômica, além de neutrofilia e eosinofilia. Não houveram intercorrências e o animal recebeu alta no segundo dia do pós-operatório. Durante a laparotomia exploratória a visualização do baço rotacionado e de aspecto desvitalizado a fundamenta o diagnóstico final, e por esta razão o procedimento é preconizado nestes casos. A atividade física intensa associada a baixa frequência diária de alimentação é um importante fator de risco para o desenvolvimento da torção esplênica primária. Cães de raças grandes com essas duas características estão, por sua vez, mais propensos a essa afecção. O diagnóstico precoce e a instituição rápida da esplenectomia aumentam a chance de sucesso. |