Resumo |
As malformações congênitas anorretais são raras em cães e gatos. A atresia anal consiste em uma má formação congênita, caracterizada pela falta de comunicação entre o reto e o períneo e se desenvolve durante a formação do embrião, quando a cloaca primitiva do reto e o seio urogenital ainda não estão completamente separados. Na ausência de diagnóstico e tratamento precoce, complicações como fístula retovaginal ou retouretral se tornam presentes. O diagnóstico é baseado no histórico, sinais clínicos, exame físico e exames de imagem. O tratamento é cirúrgico e depende do tipo de atresia diagnosticada, mas consiste em síntese da fistula, reconstrução do reto e abertura do ânus. Objetiva-se relatar o caso de uma paciente felina de 8 meses, SRD, resgatada, apresentando constipação, tenesmo e vocalização durante mímica de defecação. Durante o exame físico identificou-se aumento de volume e dor à palpação abdominal, presença de grande quantidade de conteúdo em cólon, ausência de orifício anal e fístula retovaginal. Os exames hematológicos evidenciaram anemia. Realizou-se exame radiográfico simples e contrastado com enema iodado, que evidenciou fecaloma, megacólon, atresia anal tipo IV com fístula retovaginal. A paciente foi submetida à tratamento clínico com minilax e encaminhada para procedimento cirúrgico para ovariohisterectomia, realização da anoplastia e correção da fístula. A abertura anal foi realizada a partir de uma incisão circular de pele sobre a região onde originalmente se localiza o ânus, seguida de dissecção e localização do reto, que se apresentava em fundo cego, tração caudal do reto, ressecção do fundo cego, seguida de sutura da pele com a parede do reto em pontos interrompidos simples com Poliglecaprone 4-0 em toda sua circunferência. Para identificação da fistula, foi inserida uma sonda uretral pela vagina e realizou-se fistulorrafia e reconstrução do períneo. A paciente foi submetida à antibioticoterapia em pós-operatório, utilização de antinflamatório não esteroidal, analgesia e continuidade do tratamento com minilax para solução do fecaloma e consequente megacólon. A paciente apresentou excelente recuperação após procedimento cirúrgico, continência fecal e recuperação do megacólon. A atresia anal é pouco frequente em felinos e, a paciente apresentava atresia do tipo IV, com presença de fistula retovaginal e megacólon. A técnica cirúrgica se mostrou eficaz aliada à conduta clínica de pós-operatório, permitindo a restauração do trânsito intestinal normal do paciente. Recomenda-se não realizar colectomia em pacientes muito jovens apresentando megacólon secundário à atresia anal antes da tentativa de tratamento clínico, visto que tal procedimento pode ser desnecessário dependendo da gravidade e cronicidade do megacólon e, das possíveis complicações associadas ao procedimento, como perda da continência fecal e diarréia crônica. |