Resumo |
São conhecidas no Brasil cerca de 450 espécies de serpentes, correspondendo a aproximadamente 11% das 3931 espécies desse grupo distribuídas pelo planeta. Compreender a influência dos fatores climáticos sobre essa diversidade é de extrema importância para o estudo do comportamento desses animais. A Mata Atlântica, um hotspot brasileiro de biodiversidade, se destaca na riqueza de serpentes, com cerca de 142 espécies. Dentre as fitofisionomias desse bioma, as Florestas Estacionais Semideciduais possuem uma sazonalidade bem marcada, caracterizada por verões mais quentes e chuvosos, e invernos mais frios e secos. Sabe-se que as temperaturas influenciam diretamente as atividades dos répteis, porém, estudos de longo prazo que abordam essa questão, são escassos na literatura. Dessa forma, nosso objetivo foi observar a diversidade de serpentes e a influência da sazonalidade sobre esse grupo de répteis em uma área de Mata Atlântica. O estudo foi realizado no campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), município de Viçosa, Zona da Mata de Minas Gerais. A UFV possui uma área de 1611 hectares, e é composta por áreas antrópicas (construções, estradas, lagoas artificiais), pastagens e fragmentos de Florestas Estacionais Semideciduais. A pluviosidade média anual nesse município é de 1251 mm, sendo julho o mês mais seco (média de 12 mm) e dezembro mais chuvoso (média de 252 mm). Já a temperatura possui a menor média em julho (17,3ºC), e a maior em dezembro (23ºC). Utilizamos os arquivos de recepção de serpentes do Museu de Zoologia João Moojen, da UFV. Esses arquivos englobaram os anos de 2009 a 2020, e consideramos somente os registros feitos dentro do campus da UFV. Encontramos 139 registros de 18 espécies de serpentes, sendo que as espécies mais representativas foram Bothrops jararaca com 60 espécimes, Bothrops jararacussu com 24 espécimes e Micrurus frontalis com 13 espécimes. Já em relação a época do ano, os meses de maior incidência correspondem ao período de novembro a maio, com 119 registros, enquanto nos meses mais frios os números diminuem consideravelmente, tendo-se 19 registros. A riqueza de espécie corresponde a 52,9% do que foi registrado para a região de Viçosa, um número relevante considerando o tamanho da área de estudo. O maior número de registros de B. jararaca pode ser explicado pelo fato de que a espécie está adaptada a viver em ambientes antrópicos, e pode se beneficiar de ratos urbanos. Nossos dados revelam ainda que a temperatura e pluviosidade tem influência na atividade das serpentes, e como consequência leva ao maior número de registros no campus da UFV durante os meses mais quentes. |