Resumo |
A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma enfermidade de caráter zoonótico e de distribuição mundial, causada por um protozoário do gênero Leishmania sp. Os achados clínicos frequentes incluem alterações digestórias, renais, hepáticas, neurológicas, oculares, dermatológicas e locomotoras. Objetiva-se relatar o caso de um cão, fêmea, sem raça definida e seis anos de idade, atendida com queixa de claudicação sem apoio em membro pélvico esquerdo (MPE), de evolução progressiva há cinco anos. Durante a realização do exame clínico a paciente apresentava ulcerações em cavidade oral e canal vaginal e, no exame ortopédico, observou-se crepitação e dor excessiva em articulação tíbiotársica e úmeroradioulunar em MPE. Imagens radiográficas foram compatíveis com artrite erosiva nessas articulações. Além disso, tutores relataram histórico de estro mesmo após submeter a paciente a ovariohisterectomia eletiva. Uma avaliação ultrassonográfica abdominal identificou parênquimas esplênicos e hepáticos com padrão heterogêneo, permeados por estruturas hiperecoicas em relação a ecogenicidade esperada para os órgãos; assim como, um conjunto de vasos tortuosos e aglomerados em região cranial a bexiga e caudal ao rim esquerdo sugerindo a presença de granuloma ou neoplasia e presença de conteúdo anecoico em coto uterino sugerindo mucometra/piometra de coto. Dessa forma, a paciente foi encaminhada para realização de procedimento de laparotomia exploratória na tentativa de elucidar os achados ultrassonográficos. Durante a laparotomia identificou-se esplenomegalia com parênquima heterogêneo e irregular, permeado por estruturas nodulares; fígado com dimensões reduzidas, irregular e heterogêneo; estruturas granulomatosas em topografias de ovários, de aspecto desorganizado, vascularizados e aderidos; coto uterino com conteúdo muco-purulento. Dessa forma, realizou-se biopsia incisional de fragmento hepático; esplenectomia; exérese das estruturas em topografia de ovário e do coto uterino. O material biológico foi enviado para análise histopatológica evidenciando alterações hepáticas e esplênicas compatíveis com processo inflamatório; granulomas compatíveis com ovários remanescentes; e coto uterino apresentando hiperplasia endometrial cística. Mediante ao conjunto achados, buscou-se identificar agentes infecciosos por meio de métodos diagnósticos com maior sensibilidade e especificidade, obtendo-se o diagnóstico de LVC após resultado positivo para a presença de Leishmania infantum em PCR quantitativo de sangue total. A infecção por Leishmania sp. causa frequentemente uma doença sistêmica crônica associada a distúrbios inflamatórios, com achados inespecíficos. A ocorrência de osteoartropatias está presente em até 44,8% dos animais acometidos por LVC, entretanto, são escassas e contraditórias as informações sobre as lesões osteoarticulares associadas a esta enfermidade, o que reforça a necessidade de novos relatos e estudos sobre essa condição. |