Resumo |
O Brasil reúne um conjunto de características edafoclimáticas e topográficas favoráveis ao desenvolvimento de atividades agropecuárias. Em função disso, possui papel relevante para atender as crescentes demandas mundiais por alimentos. No entanto, é de fundamental importância conciliar as atividades agropecuárias com a conservação e sustentabilidade dos ecossistemas naturais. A bacia do rio Paranã está localizada nos estados de Goiás e Tocantins, no bioma cerrado, caracterizado como uma importante fronteira da expansão agrícola no país. Diante do exposto, objetivou-se com este trabalho avaliar o impacto da expansão das fronteiras agrícolas na supressão da vegetação natural em uma porção da bacia do Rio Paranã a montante da estação fluviométrica 21500000 (Nova Roma), no período de 1985 a 2019. Neste estudo o uso e cobertura da terra foram obtidos pelo Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra no Brasil – MapBiomas. Esse produto consiste em mapas anuais de 1985 a 2019 no formato matricial (30m por 30m) gerados a partir da classificação pixel a pixel de imagens do satélite Landsat utilizando-se algoritmos de aprendizagem de máquina. As informações utilizadas resultaram do processamento da base de dados, que teve o intuito de analisar temporalmente as perdas e ganhos das diferentes classes de uso e cobertura da terra. Foram consideradas seis classes: Floresta, Formação Natural não Florestal, Agricultura, Pastagem, Área não Vegetada e Corpos D’água. De posse dos resultados, foi possível observar uma variação expressiva do uso da terra, com diminuições, em relação a área total de estudo, de aproximadamente 14% de florestas e 2,5% de formações naturais não florestais, e aumentos de 11% de pastagens e 5% de agricultura, sendo as demais classes desconsideradas das análises posteriores em função da característica de estabilidade ao longo de todo o período analisado. A área de floresta cedeu, gradualmente, espaço para implantação da pecuária extensiva até o ano de 1998. No entanto, a partir de 1998 é observada reduções na taxa de incremento de pastagem (56%) e na taxa de decréscimo de floresta (12,6%). Esse comportamento pode ser justificado pelas leis governamentais implantadas a partir de 1998, por meio da criação da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), a qual impactou o Código Florestal, a partir da aplicação de multas via fiscalização ambiental. A expansão de áreas agrícolas intensificou efetivamente a partir de 2002, que pode se justificar pela construção da barragem do Rio Paranã, no Vale do Paranã, aumentando a oferta hídrica para os produtores rurais e incentivando, especialmente, a produção agrícola irrigada na região. Os resultados obtidos evidenciam a importância do controle do desmatamento por meio de instrumentos legais, especialmente em áreas de fronteiras agrícolas, visando promover o desenvolvimento das atividades agropecuárias em equilíbrio com a sustentabilidade dos recursos naturais. |