Resumo |
A mortalidade em decorrência da colisão com edificações tem alta relevância em área urbanas, sendo estimada, somente na América do Norte, mais de 1 bilhão de mortes por ano. Dada sua relevância no contexto da ecologia e planejamento urbano, colisões de aves com edificações tem recebido maior atenção nos últimos anos, embora dados da América Latina sejam insipientes. Nosso objetivo é avaliar a mortalidade de aves devido à colisão com as edificações do Campus da UFV em Rio Paranaíba-MG para propor medidas que mitiguem esse impacto. O Campus Rio Paranaíba (UFV-CRP) teve sua construção iniciada em 2008, totalizando seis edificações. Situado em uma área rural, em meio a plantações e fisionomias de cerrado, possui ampla área verde ao redor das edificações. Tais características favorecem o uso da área por uma grande diversidade de espécies de aves, as quais, consequentemente, estão sujeitas a colidirem com as edificações. O projeto iniciou em outubro de 2019, totalizando 45 amostragens até o presente (22 meses). Foram realizadas buscas sistemáticas por carcaças de aves no perímetro de quatro edificações – cerca de 2-3 m no entorno de cada edificação – uma a quatro vezes ao mês. Carcaças reportadas por terceiros foram registradas para complementar os dados das amostragens. Cada carcaça encontrada ou reportada foi identificada, fotografada e registrada a coordenada do local. Foram registrados 92 indivíduos, representando 23 espécies (14 carcaças não foram identificadas) de 15 famílias. Destas, 13 carcaças foram reportadas por terceiros, sendo três (Psittacara leucophtalma, Progne chalybea e Molothrus bonariensis) encontradas dentro das edificações. Houve predominância de aves campestres, destacando-se Columbidae (30 ind.; Zenaida auriculata = 16 ind., Columbina talpacoti = 12 ind) e Thraupidae (19 ind; Sicalis flaveola = 10 ind., Volatinia jacarina = 8 ind.), resultado esperado pelas características da paisagem do entorno das edificações. O Laboratório de Ensino (LAE) apresentou maior número de colisões (50), acima das demais edificações (Biblioteca [BBT] = 7, Restaurante Universitário [RU] = 16; Prédio de Aulas [PVA] = 19). Os resultados sugerem uma maior probabilidade mortalidade conforme o aumento no perímetro da edificação e a área da fachada coberta por vidros. Porém a arquitetura da edificação também influencia na probabilidade de colisão das aves. A taxa de colisão estimada foi de 6,9 indivíduos/edificação/ano, valor abaixo das estimativas da América do Sul (28 ind/ed/ano) e inferior aquela dos EUA (67 ind/ed/ano). Contudo, o esforço amostral realizado e a ausência de parâmetros, como taxa de remoção de carcaças, dificulta a estimativa precisa da taxa de mortalidade. Outros fatores a serem considerados são fato do campus estar em área rural e não urbana, a paisagem no entorno das edificações e as características da avifauna local. |