Resumo |
O sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) é uma espécie endêmica da Mata Atlântica do sudeste do Brasil e está listado como “Em Perigo de Extinção” na lista nacional e internacional de espécies ameaçadas. O declínio de sua população foi ocasionado pela destruição contínua de seu habitat e pela introdução antropogênica de primatas invasores, como C. flaviceps e C. jacchus, que são espécies com alta competitividade ecológica e possuem risco de hibridação por serem espécies congêneres. Objetiva-se relatar o protocolo de esterilização para controle populacional dos saguis invasores (Callithrix sp.), visando o manejo conservacionista do C. aurita. Três grupos de híbridos foram capturados na Mata do Ginásio, localizada na Universidade Federal de Viçosa, sendo oito machos e quatro fêmeas. As técnicas de esterilização escolhidas foram a deferentectomia e a laqueadura, preservando as gônadas para manutenção do comportamento social, que é diretamente influenciada pelo controle hormonal. O protocolo anestésico utilizado foi 1 mg/kg de midazolam, 0,1 mg/kg de butorfanol e 10 mg/kg de cetamina por via intramuscular como medicação pré-anestésica, indução e manutenção com sevoflurano e monitoração durante o trans e pós cirúrgico. Os animais foram posicionados em decúbito dorsal para realização de tricotomia e antissepsia da área cirúrgica. Nos machos, realizou-se incisão de aproximadamente 1cm na linha média acima da sínfise púbica para exposição dos testículos e funículos espermáticos. Após divulsão e separação do ducto deferente, foram feitas duas ligaduras com nylon 4-0 cranial e caudalmente ao ducto. O procedimento foi realizado do lado direito e esquerdo. Após o reposicionamento das estruturas, realizou-se sutura intradérmica com Vycril 5-0. Nas fêmeas, realizou-se incisão retroumbilical de 1cm na linha média, para acessar a cavidade abdominal e expor o sistema reprodutor feminino. Após localização das tubas uterinas, foram realizadas duas ligaduras com nylon 4-0 na região dos istmos tubários direito e esquerdo. Procedeu-se miorrafia com pontos simples separado e sutura intradérmica utilizando-se fio Vycril 4-0 e 5-0, respectivamente. Os animais permaneceram estáveis durante todo o procedimento cirúrgico. No pós-operatório, os saguis foram medicados com enrofloxacino (5 mg/kg) e meloxicam (0,2 mg/kg) por via subcutânea SID, amoxicilina (0,2 mg/kg) por via subcutânea SID e limpeza diária da ferida cirúrgica com clorexidine 1% e aplicação tópica de ganadol (pomada à base de ureia, penicilina e diidroestreptomicina) durante 7 dias. Após a completa recuperação dos animais esterilizados, a soltura dos grupos foi realizada em fragmentos de Mata Atlântica da UFV. Conclui-se que as técnicas de esterilização utilizadas foram eficazes, resultaram em excelente recuperação cirúrgica e breve soltura. A continuidade do controle populacional dos saguis invasores proposto irá, a longo prazo, resultar em sucesso na reintrodução, repovoamento e conservação do C. aurita. |