Resumo |
A colelitíase é uma afecção pouco frequente em cães e gatos e corresponde à presença de cristais formados de colesterol ou bilirrubinato de cálcio associado a bilirrubina, no interior da vesícula biliar. A colelitíase pode ser assintomática, sendo identificada por exames de imagem, e, pode cursar com intensa manifestação dolorosa abdominal, anorexia, êmese, icterícia e perda de peso, podendo evoluir para obstrução do ducto biliar e inflamação de órgãos adjacentes como pâncreas e intestino delgado, e ainda, a ruptura da vesícula biliar causando consequente peritonite química e suas complicações severas. As causas mais comuns para formação dos cálculos biliares são a colângio-hepatite e colecistites bacterianas, nas quais a atividade das bactérias B-glucuronidase tornam a bilirrubina livre no ambiente e favorecem a sua precipitação em cristais, hipomotilidade da vesícula biliar ou intestinal, aumentando o tempo de permanência da bile na vesícula. Objetiva-se relatar o caso de uma cadela Shih-Tzu, 6 anos, castrada, apresentando apatia, hiporexia, andar rígido, sensibilidade abdominal e emagrecimento crônico. Foram realizados exames físicos e hematológicos, os quais evidenciaram moderada algia em palpação epigástrica e enzimas hepáticas no limite superior. A paciente foi encaminhada para ultrassonografia abdominal e foram observadas estruturas de superfície lisa e hiperecogênica, formando sombreamento acústico posterior, compatível com cálculos no interior da vesícula biliar, além de mucosa espessa. A paciente foi encaminhada para laparotomia exploratória que possibilitou identificação da vesícula biliar repleta com evidente inflamação em serosa. A vesícula foi isolada com compressas estéreis e foi realizada dissecção romba do peritônio visceral entre vesícula e fígado, liberação dos ductos císticos, hepático e colédoco até a junção coledocoduodenal. Realizou-se a cateterização do colédoco via papila duodenal com sonda uretral 6 e aplicação de solução salina para averiguar possíveis sinais de obstrução. Em seguida, foi realizada ligadura dupla nos ductos hepático e colédoco com fio poliglecaprone 3-0 e efetuou-se incisão removendo vesícula e ducto biliar. O fígado foi reposicionado e procedeu-se miorrafia e dermorrafia. Conclui-se que, o quadro de colelitiase pode resultar em abdômen agudo nos cães e outros sinais clínicos severos, podendo evoluir para óbito. O diagnóstico assertivo é imprescindível para que o paciente seja encaminhado para o procedimento cirúrgico e o quadro revertido antes que haja comprometimento clínico severo. Fatores como competência, destreza, experiência do cirurgião, bom conhecimento da técnica cirúrgica, dissecção mínima e delicada, hemostasia adequada, ausência de tensão nas suturas e utilização de material de síntese apropriado, são fatores importantes para evitar ocorrência de complicações trans e pós-operatórias. |