Resumo |
A persistência do arco aórtico direito é uma anomalia congênita cardiovascular, e corresponde a 95% das anomalias de anéis vasculares relatadas. Trata-se da má formação dos grandes vasos, em que a aorta desenvolve-se a partir do arco direito ao invés do esquerdo, e envolve estruturas tubulares como o esôfago, a traqueia ou ambos. O grau de compressão extra luminal dessas estruturas varia significativamente, determinando a gravidade dos sinais clínicos exibidos pelo paciente. Quando o esôfago é comprometido, o paciente apresenta quadro de megaesôfago. O diagnóstico é definido através do histórico, sinais clínicos e exames de imagem como radiografias torácicas e endoscopia digestiva. O tratamento definitivo é cirúrgico, através da ligadura e secção do ligamento arterioso que leva ao estrangulamento esofágico. Quando não tratado, o prognóstico é reservado, pela possibilidade de agravamento por dilatação esofágica irreversível e pneumonia aspirativa. Objetiva-se relatar o caso do paciente Jake, macho, da raça Chow-chow, 1 ano de idade, apresentando disfagia, regurgitação pós-prandial, caquexia e apatia. O esofagograma evidenciou súbita atenuação de contraste em porção esofágica em topografia de base cardíaca e dilatação de esôfago cranial ao ponto de sugestiva estrangulação. Pela endoscopia digestiva constatou-se dilatação luminal desde a entrada esofágica cranial até o segmento torácico cranial, formação de dois divertículos em fundo cego e lúmen esofágico estenosado por compressão extraluminal de pulsação vascular na altura de base cardíaca. O paciente foi submetido à toracotomia esquerda no quarto espaço intercostal, por onde foi possível identificar os grandes vasos e o ligamento arterioso. Procedeu-se com a remoção de aderências esofágicas, com dupla ligadura com fio Poliglactina 910 3-0, seguida de ressecção do ligamento arterioso e inserção de sonda esofágica para certificar a desobstrução do órgão. Realizou-se toracorrafia ancorando fio Poliglactina 910 1 na quarta e quinta costelas em padrão simples separado, miorrafia e dermorrafia, mantendo sonda intratorácica para restabelecimento de pressão negativa. O paciente foi encaminhado para internamento para supervisão e controle analgésico. Em 72 horas encontrava-se estável, alimentando-se espontaneamente sem episódios de disfagia ou regurgitação e assim, obteve alta. Após 10 dias, a ferida cirúrgica encontrava-se coaptada, sem sinais de inflamação, e procedeu-se com a remoção dos pontos. O paciente apresentou melhora completa do quadro clínico e do escore corporal, interrupção dos episódios de regurgitação e ausência de complicações pós-operatórias. Assim sendo, foi concedida alta clínica para o paciente. O tratamento instituído foi satisfatório, visto que a intervenção cirúrgica é o único método para a correção definitiva da constrição esofágica pelo ducto arterioso. Pacientes não submetidos ao procedimento podem desenvolver quadro grave de subnutrição e pneumonia, com prognóstico reservado. |