Resumo |
Antes da pandemia o Ensino Público no Brasil enfrentava muitos desafios devido ao contexto socioeconômico dos alunos, estrutura das escolas, falta de investimento e descaso com os profissionais da educação. O programa de residência pedagógica permitiu que muitos licenciandos presenciassem a realidade de algumas escolas estaduais durante a pandemia. Nesse sentido, residentes do Núcleo Biologia/UFV relatam seu ponto de vista diante das situações presenciadas em escolas de Viçosa refletindo sobre seus efeitos na educação de maneira geral. No Regime de Atividades Não Presenciais (Reanp) de 2020, estabelecido pela Secretaria de Educação de Minas Gerais, os alunos teriam aulas por um Programa de TV "Se liga na educação", o PET (Plano de Estudo Tutorado) que consistia em apostilas mensais com atividades, o Aplicativo Conexão Escola e os professores ficariam disponíveis para tirar dúvidas por algum canal digital. Considerando apenas essas ações, percebemos que os estudantes deveriam apresentar certa autonomia para obter sucesso. No ensino presencial regular, os alunos enfrentavam dificuldades nos mais diversos âmbitos, no ensino remoto além dessas dificuldades, somam-se outros problemas como pouco ou nenhum acesso a ferramentas tecnológicas e a internet, distrações do ambiente em que ele está, responsabilidades com a casa, falta de acompanhamento dos pais e o desgaste psicológico devido à pandemia. Esse conjunto de problemas ficou evidenciado com a baixa entrega dos PETs. Algumas escolas ofereceram atividades complementares on-line, mas a participação era muito baixa. Segundo o IBGE (2020) nem todos os alunos têm acesso à internet em áreas urbanas e em áreas rurais esse índice aumenta o que pode justificar a baixa participação nas atividades on-line. Além disso, se os alunos demonstravam desinteresse no sistema presencial, no Reanp os obstáculos foram ainda maiores. Esse período evidenciou a situação da educação pública do país e a desigualdade em relação ao sistema privado, além de destacar a ineficiência dos métodos adotados pelo governo. Não houve aumento significativo de evasão nas escolas acompanhadas pelos residentes. Foi dada aos estudantes a possibilidade de entregar os PETs, mesmo que incompletos e, caso algum aluno fosse reprovado, sua matrícula ocorria de forma automática no ano de escolaridade em que ele se encontrava no ano anterior. Por este motivo, não foi possível quantificar a evasão. Mas, estudos apontam que durante a pandemia houve um aumento de cinco vezes no risco de abandono e evasão escolar se tratando de famílias mais pobres, pois muitos precisavam auxiliar na renda familiar, principalmente devido a diminuição na renda de muitas famílias. Dessa forma, percebemos vários problemas na educação brasileira, tornando nítida a desvalorização e a precarização do ensino público, além de revelar a seletividade educacional que agrava a situação de alunos em contextos de vulnerabilidade socioeconômica. |