Resumo |
O rompimento da barragem da SAMARCO, em Mariana (MG), resultou no maior desastre ambiental do Brasil e um dos maiores desastres sócio-técnicos do mundo, liberando um volume de 34 milhões de m³ de rejeitos de mineração, água e materiais utilizados em sua construção, causando diversos impactos socioeconômicos e ambientais na bacia. Dentro dos rios habitam invertebrados bentônicos (no fundo do rio), com diferentes funções ecológicas, densidades e diversidades, conforme o local. Sua distribuição é determinada pela qualidade e disponibilidade de recursos alimentares, tipo de sedimento, tipo de substrato, temperatura do meio, concentração de oxigênio dissolvido, gás sulfídrico e correnteza da água. Os Oligochaeta são um grupo de macroinvertebrados bentônicos que vivem em contato direto com o sedimento do fundo dos rios, se alimentando de matéria orgânica presente nesse sedimento. Esses animais podem absorver metais como o chumbo, presentes no sedimento, e são susceptíveis à bioacumulação desse metal em seu organismo, causando intoxicação em seus predadores. Nesse trabalho investigamos o efeito do rejeito sobre os macroinvertebrados bentônicos do rio Doce. Testamos as hipóteses de que o rejeito reduziu (i) a abundância e (ii) a diversidade de macroinvertebrados bentônicos; (iii) a resposta de oligoquetos se distinguiu dos demais. Ajustamos modelos lineares generalizados mistos (GLMM), com distribuição Poisson, localidade da coleta como intercepto aleatório. Para avaliar o efeito do rejeito, comparamos 12 locais com rejeito, ao longo de afluentes e do rio Doce, e 10 locais sem rejeito, em afluentes do rio Doce. Em cada local foram feitos 11 transectos (amostras). Utilizamos o número de indivíduos (abundância) e número de famílias (diversidade) de macroinvertebrados, e abundância de oligoquetas, como variáveis resposta. A abundância de macroinvertebrados foi menor nos locais com rejeito (x2=126.58, g.l.= 1, P < 2.2-16), mas nem a diversidade de macroinvertebrados (x2=0.13, g.l.=1, P= 0.71, n.s.), nem a abundância de Oligochaeta (x2=1.24, g.l.=1, P=0.26, n.s.), diferiram entre locais. Não detectamos efeito do rejeito sobre a relação entre diversidade e abundância (x2=2.84, g.l.=1, P=0.091, n.s.): a diversidade aumentou com a abundância independente da presença de rejeito (x2=143.16, g.l.=1, P=< 2.2-16). Nossos resultados mostraram que o rejeito proveniente da barragem da SAMARCO reduziu a diversidade de macroinvertebrados do rio Doce, através da redução da abundância destes organismos. O próximo passo é avaliar quais fatores geram a redução na abundância, e avaliar se a composição de espécies é alterada pela passagem do rejeito. |