Resumo |
Há mais ou menos sete décadas, o termo metadiscurso foi criado e vários autores têm-se dedicado a desenvolver esse conceito, como é o caso de Ken Hylan (1998, 2005), autor enfocado neste trabalho. Estudar o metadiscurso é fundamentalmente importante para compreender como os autores argumentam em seus textos, e como o emprego da atenuação possibilita que escritores apresentem a si e seu trabalho de forma ponderada, precavida e persuasiva. O valor deste estudo consiste em compreender a atenuação como elemento essencial do discurso acadêmico-profissional e como recurso fundamental para a configuração do artigo de pesquisa como veículo de negociação e ratificação do conhecimento científico, e para a evidenciação da função promocional e comunicativa da seção de introdução. Neste trabalho, faz-se uma pesquisa descritiva de cunho qualitativo e quantitativo, descrevendo-se e analisando-se a frequência de uso de recursos de atenuação na introdução de 80 artigos acadêmicos da área da administração pública de língua portuguesa, sendo 40 da década de 1960 e 40 da década de 2010. Utilizou-se o instrumental da Linguística de Corpus para formação e análise do corpus. Atendo-se ao fato de que possíveis fatores ocasionadores de variação – como, por exemplo, o tipo de sujeito, a valência do atenuador e suas propriedades flexionais – podem ter sido restringidos ao fator "sistema de atividade", tem-se por comprovada a hipótese de pesquisa de que há variação na frequência de uso de recursos metadiscursivos de atenuação retórica dentro de uma mesma área: a administração pública de língua portuguesa. Isso se verifica especialmente no uso preferencial que os escritores da década de 1960 fazem da estratégia de indeterminação (232 ocorrências, 70%), assim como no uso preferencial que os escritores da década de 2010 fazem da estratégia de desagentivização (218 ocorrências, 54%). Diferenças acentuadas na frequência de uso entre décadas, como é o caso do verbo epistêmico auxiliar modal poder, dos verbos epistêmicos lexicais e da construção ativa impessoal, parecem indicar certa flexibilidade na escolha e emprego de atenuadores, ademais de sugerir uma certa padronização, tendência ou preferência linguístico-retórica, possibilitando aos escritores graduarem seu comprometimento com o valor-verdade de sua proposição e se posicionarem de forma comedida, persuasiva e deferente diante de seus pares, a fim de granjear boa reputação profissional. |