Resumo |
Lenticelose é um distúrbio fisiológico caracterizado pelo escurecimento e depressões pardas circunscritas às lenticelas, reduzindo a qualidade estética dos frutos. As causas da sua ocorrência em frutos de Avocado Hass ainda permanecem desconhecidas. A literatura sugere que os agentes causais da lenticelose são a variação da temperatura e umidade relativa, no entanto, foi observado que, independente destas variações, ela não ocorre em frutos não colhidos ou frutos colhidos e não submetidos ao beneficiamento pós-colheita. É provável que os danos mecânicos gerados durante o beneficiamento estejam diretamente associados ao surgimento da lenticelose. Portanto, o objetivo foi investigar e comparar anatomicamente as regiões sadias e com lenticelose em frutos submetidos ao beneficiamento pós-colheita. Frutos de Avocado Hass colhidos manualmente em período de safra (maio) no Grupo Tusge, Rio Paranaíba (MG), foram submetidos ao beneficiamento na packing house (descarregamento dos pins, seleção manual, rolagem em esteira metálica, sanitização, tratamento com solução de extrato de canela e embalagem). Dez frutos foram amostrados e avaliados na porção mediana sobre os danos observados. O material coletado foi fixado em formalina, ácido acético e álcool etílico a 50% (FAA50) por 24 horas, sob refrigeração e estocado em etanol 70%. Amostras de aproximadamente 0,5 cm² foram desidratadas em série etílica crescente e emblocadas em metacrilato. O material emblocado foi seccionado, transversal e longitudinalmente, em micrótomo rotativo de avanço automático com 5 µm de espessura, coradas com azul de toluidina e montadas sob lamínula com resina sintética Permout. Imagens foram obtidas em fotomicroscópio com sistema U-PHOTO, acoplado a câmera fotográfica digital e a microcomputador com o programa de captura de imagens Spot Basic. As células dos tecidos abaixo da lenticelose estavam colapsadas e os tecidos epidérmicos e subepidérmicos estavam fenolizados e oxidados. Em outras regiões houve formação do felogênio e consequente origem de súber. Estas observações, ainda que preliminares, evidenciam um processo natural que é exacerbado por um dano mecânico. A presença de esclereídeos (braquiesclereídeos) e células em diferenciação com paredes espessadas e com fenólicos no lúmen, logo abaixo das lesões e em pequenos grupos na porção periférica no mesocarpo, evidenciam a (re)diferenciação das células parenquimáticas em tecidos de sustentação para conferir maior resistência na porção lesionada. A (re)diferenciação pode ser acelerada ou intensificada pelo suposto dano mecânico o que contribui para a lenticelose. Apesar do efeito da temperatura e umidade relativa serem fatores a serem avaliados, supõe-se que eles apenas favorecem para a intensidade da lenticelose, mas não a desencadeia. A constatação da fenolização e colapso celular em regiões de ocorrência de lenticelose vão ao encontro da hipótese de que danos mecânicos, durante a colheita e pós-colheita, originam o distúrbio. |