Resumo |
Wolbachia é uma bactéria endossimbionte conhecida por infectar artrópodes e nematoides. Dentre os efeitos causados por Wolbachia em seus hospedeiros estão a feminização, a partenogênese, morte dos machos, incompatibilidade citoplasmática e manipulação do comportamento reprodutivo, especialmente na escolha de parceiros. Drosophila saltans (Diptera: Drosophilidae) é uma espécie neotropical, reconhecidamente não infectada por Wolbachia, apesar de pertencer a um grupo de espécies crípticas (tão aparentadas que só podem ser diferenciadas por detalhes da genitália masculina) e infectadas por cepas próximas da bactéria. Como os estudos com Wolbachia devem envolver linhagens naturalmente infectadas e indivíduos dessas linhagens tratados com antibióticos, este trabalho visou investigar as consequências do tratamento com antibióticos no comportamento reprodutivo de um organismo controle. Resultados anteriores obtidos com a mesma linhagem aqui estudada (Sal02) sugerem que fêmeas tratadas (St) e não tratadas (S) são igualmente inseminadas e fertilizadas por machos St e S. No entanto, fêmeas S produzem mais prole com machos S que qualquer outro cruzamento envolvendo fêmeas e machos S e St. Isso indica que o tratamento reduz o valor adaptativo nessa linhagem. Com isso, o objetivo deste trabalho foi avaliar se fêmeas S e St conseguem diferenciar machos S e St. Para isso, montamos 12 arenas de acasalamento com cruzamentos intraespecíficos entre espécimes de D. saltans tratados e não tratados com o antibiótico tetraciclina. Cada arena foi composta por 18 indivíduos, sendo seis machos S, seis machos St e seis fêmeas. Metade das arenas foi montada com fêmeas S e a outra com fêmeas St. As arenas foram filmadas durante 2 horas, sob iluminação constante e temperatura controlada de 23°C. O número e composição de casais formados, bem como o início e duração de cada cópula foram contabilizados. Nossos resultados indicam que fêmeas S não apresentam preferência por nenhum tipo de macho (p = 0,316), enquanto fêmeas St preferem machos S (p = 0,0174). Assim, é possível perceber que o tratamento interfere na escolha de parceiros sexuais por parte das fêmeas. Nossos resultados podem ser interpretados de duas maneiras: fêmeas de Drosophila saltans sem tratamento são mais receptivas aos parceiros sexuais ou fêmeas tratadas são mais seletivas. |