Resumo |
As desigualdades de gênero, especialmente no mundo do trabalho e na economia, é uma pauta global. No meio rural, porém, essa é uma questão ainda mais sensível. As mulheres, em geral, são associadas ao ambiente doméstico, definidas como acessórias às atividades produtivas e supostamente provedoras dos homens, invisibilizando sua contribuição econômica e seu papel central para a reprodução social das famílias no campo. É nesse contexto que este projeto se insere. Ele objetivou implementar a Caderneta Agroecológica com agricultoras das comunidades rurais Córrego dos Nobres, Buieié e Pau de Cedro, em Viçosa/MG. Trata-se de uma tecnologia social desenvolvida para desvelar a economia das mulheres agricultoras e emponderá-las. A caderneta foi elaborada para ser de fácil apropriação, sendo um caderno em espiral composto por páginas divididas em quatro colunas: consumo, doação, troca e venda, que diariamente deve ser preenchido com informações sobre cada item, quantidades e valores monetários de produtos e serviços que são produzidos e manejados pelas mulheres. O projeto envolveu diretamente 23 agricultoras e assumiu caráter dialógico e participativo, integrando diversas atividades e etapas: (i) mobilização, apresentando as cadernetas às mulheres por meio de reuniões coletivas; (ii) implementação, auxiliando o processo de preenchimento das cadernetas e coletando dados de caracterização socioeconômica; (iii) monitoramento e sistematização, acompanhando as anotações, coletando os dados e organizando as informações; (iv) formação e intercâmbios, ofertando capacitações e visitas técnicas sobre produção de alimentos e direitos das mulheres; (v) devolutivas, apresentando de forma didática às mulheres os resultados e a dimensão qualitativa e quantitativa de suas atividades econômicas. A experiência mostrou que o processo de anotação e observação da produção induziu o incremento e a diversificação dos produtos manejados pelas mulheres. As atividades coletivas e intercâmbios resultaram em diversas trocas de experiência, criando laços afetivos e redes de parceria e amizade entre elas. O monitoramento e sistematização revelaram que as mulheres tem papel econômico central e são protagonistas da dinâmica socioeconômica das famílias, economizando e gerando recursos financeiros significativos e que enfrentam sobrecarga de trabalhos. Revelou ainda que elas são agentes da segurança alimentar e da biodiversidade: 135 produtos diferentes foram mapeando como manejados por elas nos quintais. O projeto contribuiu também, principalmente durante a pandemia, para a inserção das mulheres em circuitos curtos de comercialização, como a venda direta para o programa Periferia Viva em Viçosa. Conclui-se que as mulheres agricultoras possuem uma densa vida econômica e são fundamentais para a economia rural e a produção de alimentos, mas isso demanda políticas públicas e compromisso público para ser desvelado, reconhecido e pautado como agenda de desenvolvimento sustentável. |