Resumo |
O glaucoma é uma afecção ocular que se desenvolve em consequência de uma anormalidade ou obstrução do ângulo de drenagem do humor aquoso, elevando assim a pressão intraocular (PIO). No glaucoma primário a pressão intraocular se eleva devido a uma anormalidade hereditária do ângulo iridocorneano. O glaucoma secundário corresponde ao aumento da pressão ocular em consequência de uma doença preexistente formadora de barreira física que afeta a drenagem de humor aquoso, como neoplasias, uveíte e trauma. Objetiva-se relatar o caso de uma canina, fêmea, sem raça definida de 10 anos de idade atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa com histórico de irritação, prurido e vermelhidão ocular, além de hiporexia e apatia. Ao exame físico observaram-se mucosas hipocoradas, linfonodo submandibular direito megálico e petéquias em região abdominal ventral. O olho direito apresentava buftalmia, hiposfagma, vasos episclerais congestos, ausência de resposta à ameaça, PIO de 51 mmHg e úlcera de córnea superficial e extensa. O exame ultrassonográfico ocular evidenciou descolamento de retina, opacidade do cristalino e espessamento de corpo ciliar (indicativo de uveíte). Desta forma, os exames oftálmicos indicaram glaucoma secundário a uveíte. Os exames laboratoriais acusaram anemia normocítica hipocrômica, desvio à esquerda de 8%, linfocitose, trombocitopenia e hiperglobulinemia. Como os achados clínicos e laboratoriais sugeriram hemoparasitose, realizou-se sorologia para erliquiose/babesiose, sendo o resultado positivo para erliquiose e negativo para babesiose. Contudo, mesmo antes do resultado sorológico, instituiu-se tratamento com dipropionato de imidocarb e doxiciclina por 28 dias. Para as alterações oftálmicas prescreveu-se colírio de tobramicina, trometamol cetorolaco, latanoprosta, dorzolamida 2%, além de meloxicam e dipirona por via oral. Recomendou-se ainda o uso de colar elizabetano. Após quatorze dias de tratamento evidenciou-se redução da PIO para 24 mmHg, valor este que se enquadra dentro da normalidade, e remissão da úlcera de córnea. A manifestação oftálmica comumente associada à erliquiose é a uveíte, a qual se desenvolve em consequência da vasculite e hemorragia ocular. O glaucoma secundário está relacionado a casos de uveíte crônica, que pode culminar no acúmulo de debris celulares no ângulo iridocorneano favorecendo a retenção de humor aquoso e promovendo o aumento da pressão intraocular. Para o tratamento do glaucoma secundário à erliquiose é importante o emprego de medicamentos que reduzam a PIO e a inflamação intraocular, além do combate à hemoparasitose. Deste modo, o tratamento instituído neste caso demonstrou-se eficaz para a remissão do glaucoma secundário a erliquiose. |