Resumo |
A defesa territorial em animais é energeticamente custosa, assim a identificação dos invasores e a decisão de executar respostas agressivas são comportamentos essenciais para animais que vivem em sociedade. Segundo a literatura, são esperados dois resultados em termos de agressividade: menor agressão a vizinhos quando comparado com estranhos (efeito “querido inimigo”, QI) ou menos agressividade com estranhos do que com vizinhos (efeito “vizinho desagradável”, VD). Diante disso, o objetivo do presente projeto é investigar o reconhecimento e a agressividade entre indivíduos coespecíficos pertencentes a ninhos mais próximos e ninhos mais distantes da formiga Azteca müelleri, que nidifica no interior de caules ocos da árvore pioneira Cecropia glaziovii. Mais especificamente pretendemos investigar se os efeitos QI ou VD se aplica a esse sistema mutualístico. Para isso foram amostrados 46 ninhos de A. müelleri em três frangmentos de Mata Atlântica na região de Viçosa. Para testar a influência da distância geográfica sobre a agressividade entre as formigas, foram realizados ensaios de agressividade com formigas de ninhos vizinhos e distantes. Para isso, foi medida a distância geográfica entre as plantas (ninhos) com auxílio de GPS. Assim, foram coletadas centenas de operárias dentro de uma colônia (planta), e essas foram armazenadas em potes plásticos perfurados e levadas ao laboratório. Para os ensaios de agressividade, foram colocados cinco indivíduos pertencentes a duas colônias diferentes (10 indivíduos no total), em uma arena plástica de 25cm² separada por uma barreira que isolava os indivíduos de cada ninho. Após um período de aclimatação, os cinco indivíduos de cada colônia eram liberados para interagir livremente por um período de cinco minutos. Ao longo desse tempo, todos os comportamentos foram registados e classificados seguindo um protocolo de agressividade. Os resultados dos testes de agressividade mostram que 54,05% dos encontros entre formigas de colônias próximas acabaram em interações não agressivas. Por outro lado, para os encontros entre formigas de colônias distantes 97,5% das interações foram agressivas. Ao compararmos o índice de agressividade entre as colônias, percebemos que a agressão entre formigas foi significativamente mais alta em testes entre colônias distantes do que entre colônias próximas (F5,17 =15.907, P <0,001). Também encontramos um efeito positivo da distância geográfica sobre a agressividade das formigas (F1,21 = 30.098, P < 0.001). A partir desse estudo, encontramos suporte para efeito do “querido inimigo” ao invés do “vizinho desagradável”. O estudo da agressividade entre vizinhos e estranhos em um sistema mutualístico formiga-planta é novidade em uma abordagem experimental. Os resultados do trabalho podem auxiliar no entendimento dos mecanismos que regem o comportamento de defesa territorial em animais, focando-se aqui em insetos, e mais especificamente, nas complexas simbioses entre plantas e formigas. |