Resumo |
A presente pesquisa teve como objetivo geral investigar como estéticas da pandemia da Covid-19 revelam modos pelos quais diferenças emergem no contemporâneo e, no mesmo lance, o constituem, em contextos midiatizados. De modo específico, o trabalho tomou, como caso empírico, a problematização do racismo institucional praticado pelo poder público do Rio de Janeiro, identificado no único post feito pela conta do Twitter do ex-Governador Wilson Witzel, referente ao assassinato do menino João Pedro Mattos, de 14 anos, morto no dia 18 de maio de 2020, em um conflito entre polícias (Civil e Federal) e traficantes, na residência de sua tia, em pleno isolamento social motivado pela pandemia. Como referencial teórico, a pesquisa discutiu três grandes noções: 1) dimensões estruturais e institucionais do racismo no contexto das organizações (ALMEIDA (2020), MOREIRA (2017;2020), WERNECK (2016)); 2) comunicação organizacional e estéticas da diferença na identificação de emergências e latências frente ao racismo institucional (BALDISSERA (2007;2009), MAFRA; MARQUES (2017;2019), GUMBRECHT (2010), SILVA; MAFRA (2020)); 3) o Twitter e a emergência de um ambiente relacional entre organizações e públicos (BALDISSERA; VINHOLA (2020), ROSA; RUSSEL (2010), ROSSETTO; CARREIRO; ALMADA (2013), BALDISSERA (2009)). Como metodologia, a pesquisa combinou a abordagem indiciária, proposta por Ginzburg (1989) e discutida por Braga (2008), com a análise do discurso organizacional elaborada por Baldissera e Mafra (2019). Os principais resultados evidenciam que: 1) em relação ao poder público, foi possível identificar a presença de latências no Twitter, expressas diante do pronunciamento oficial do Governador, uma vez que não houve posicionamento público que reconhecesse a instância institucional do racismo na morte do menino João Pedro; dessa forma, é notável a ausência de reconhecimento de uma prática racista exercida pelo Estado, disfarçada por um pronunciamento que aponta comoção e empatia com o assassinato, sem evidenciar o traço institucional do racismo que motivou a morte do garoto; 2) em relação aos públicos, emergências foram identificadas a partir de um endereçamento público de cobranças no Twitter, relacionadas a explicações do que aconteceu com João Pedro; entretanto, a pesquisa demonstrou que a latência reconhecida na única fala oficial do poder público influenciou no modo como a emergência dos públicos ocorreu, atestando o que Almeida (2020) diz, ao afirmar que o racismo institucional é de difícil comoção e reconhecimento nas sociedades modernas, como uma atmosfera (GUMBRECHT, 2014) que nem sempre consegue ser detectada, embora presente no exercício de sua força. Como conclusões, a pesquisa revelou a presença do viés institucionalmente racista nos serviços de segurança pública do estado do Rio de Janeiro, intensificado no contexto da pandemia, colocando em risco a vida de jovens negros em suas diferenças, nos contextos contemporâneos. |