Resumo |
Introdução: O Sistema Único de Saúde (SUS) assume a saúde como um direito constitucional e a compreende a partir de uma perspectiva ampliada, transcendendo a abordagem reducionista hegemônica que concebe apenas a dimensão biológica dos sujeitos como foco do cuidado. As premissas do SUS incluem aspectos subjetivos, culturais, espirituais e sociais em relação às condições materiais de existência. Essa compreensão dos processos de saúde e adoecimento, perpassa o reconhecimento dos projetos de felicidade como participantes da construção dos processos de viver, adoecer e morrer das pessoas. No contexto dos presídios, o direito à saúde é cotidianamente anulado, seja pela falta de acesso à serviços e cuidados em saúde, seja pelas condições insalubres de vida à que estão expostos. Assim, para produção de práticas de cuidado sustentadas na integralidade, é preciso conhecer a realidade objetiva desse cotidiano, e, também, as subjetivações que nele são tecidas as quais, no cárcere, são marcadas pela privação não só de liberdade, mas de direitos de cidadania. Reconhecer esta subjetividade no contexto das práticas de saúde é subsídio fundamental para ofertar cuidado essencialmente integral e balizado por referenciais de humanização. Mediante exposto, questiona-se: Quais são os projetos de felicidade das pessoas privadas de liberdade em um presidio do interior da Zona da Mata Mineira? Objetivo: conhecer o projeto de felicidade de uma população privada de liberdade. Material e Métodos: Pesquisa qualitativa, realizada entre julho de 2019 a outubro de 2020, em um presidio do interior da Zona da Mata Mineira, com 20 pessoas privadas de liberdade. Realizada entrevista aberta com roteiro semiestruturado e análise dos dados mediante Análise de conteúdo de Bardin. O estudo é um recorte de um macroprojeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa (CEPH-UFV Parecer 2.164.274 e CAAE: 70052217.5.0000.5153) e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais. Resultados: As pessoas privadas de liberdade desejam reconstruir a vida e realizar projetos sociais, principalmente em escolas, a fim de conscientizar os jovens sobre a vida no cárcere. Destaca-se, também, que a família torna-se central nos projetos de felicidade dos detentos. Além disso, há um imenso desejo de acesso à direitos fundamentais como educação e trabalho, visto que não são ofertados em sua integralidade. Conclusão: Conclui-se conhecer os projetos de felicidade dos privados de liberdade possibilita a construção de cuidados mais coerentes com a integralidade e humanização. A produção subjetiva mobilizada no cárcere produz como projeto de felicidade o rompimento do ciclo perverso que historicamente aprisiona àqueles cujos direitos não são acessados na vida fora do presídio. |