Resumo |
Introdução: a realização de pesquisas que avaliam o perfil e expectativas profissionais dos estudantes de medicina é muito importante para fundamentar intervenções e programas que visam melhorias dos cursos e da qualidade de vida dos estudantes, incluindo assistência estudantil e democratização do acesso ao ensino superior. Há uma percepção, infundida no senso comum, de que o curso de medicina no Brasil é elitista, com graduandos oriundos de famílias de alta renda, com pais que possuem curso superior e que frequentaram escolas particulares e cursinhos pré-vestibulares. Tal visão, muitas vezes, gera um impasse para o desenvolvimento de políticas de assistência estudantil, ao subestimar as dificuldades socioeconômicas dos estudantes. Objetivos: analisar o perfil socioeconômico, experiências vivenciadas e expectativas dos estudantes de medicina de uma Instituição Federal de Minas Gerais. Métodos: foi realizado um estudo transversal que teve como instrumento de coleta de dados um questionário aplicado virtualmente a 181 estudantes e recém-formados do curso de medicina, abordando aspectos socioeconômicos, demográficos e culturais, além das expectativas profissionais. Resultados: constatou-se que o perfil predominante é de homens (50,3%), com média de idade entre 21 e 24 anos (58%), brancos (64,1%), naturais do interior de Minas Gerais (58,6%), que cursaram a maior parte do ensino médio em escola pública (53,6%). Destaca-se que 31,5% dos entrevistados possuem renda familiar por pessoa da família de até 1,5 salário mínimo, 35,9% possuem ambos os pais com pelo menos ensino superior completo e que 69,6% cursaram pelo menos um ano de curso preparatório antes de ingressar na graduação. 82,3% dos entrevistados não trabalham atualmente e 63% nunca participaram de um projeto de pesquisa, enquanto 64,1% já participaram de projetos de extensão. O curso de medicina é a primeira graduação de 87,3% dos entrevistados. A maioria dos entrevistados (97,8%) pretende fazer especialização e 22,1% assinalaram o interesse em cirurgia geral, ao passo que 17,1% têm interesse em clínica médica. Os estudantes escolheram a profissão por aptidão pessoal e vocacional (68%) e 42,5% classificam o seu desempenho no curso como bom. Conclusões: os resultados deste estudo permitem concluir que o estudante de medicina já não possui as mesmas condições socioeconômicas das classes mais altas da sociedade e que a implementação das atuais políticas de ação afirmativa tem surtido efeito positivo na democratização do acesso ao ensino superior. Além disso, se torna evidente a necessidade da efetivação e ampliação das políticas de assistência estudantil, assistência à saúde e apoio psicopedagógico aos estudantes. Espera-se que os resultados deste estudo contribuam para a melhoria do ensino médico e da qualidade da assistência prestada à população, proporcionando o feedback necessário para mudanças no currículo e nos processos de ensino-aprendizagem. |