Resumo |
Esta pesquisa se volta ao pioneirismo de mulheres negras no acesso ao ensino superior diante de seus círculos familiares. Trata-se de um fenômeno social, que mesmo sendo uma ação individual, se mostra uma conquista coletiva à medida que quebra um ciclo intergeracional. E ao modificá-lo, elas transgridem as estruturas, possuindo um valor simbólico poderoso mas também material. Os aspectos teóricos que sustentam este estudo versam sobre a construção sócio-histórica desigual do sistema educacional brasileiro, junto das discussões do Feminismo Negro, como a interseccionalidade, que ao atravessar esse objeto de estudo, aponta também para educação como principal eixo estratégico no processo emancipatório. A metodologia utilizada se desenvolveu a partir de um estudo qualitativo biográfico de cunho exploratório, com entrevistas semiestruturadas em profundidade realizadas em março de 2021. Foram entrevistadas quatro graduandas e quatro já formadas no curso de Secretariado Executivo Trilíngue da Universidade Federal de Viçosa. Ao trazer a centralidade a essas narrativas, é retomado a importância das mesmas, por ser não apenas representações mas evoca experiências vividas que tem em sua raíz processos de resistência. Por meio do método da análise de conteúdo das entrevistas, foi verificado que com o acesso dessas mulheres à educação superior, gerou-se um grande impacto não somente em sua família, mas também para comunidade próxima, especialmente na dimensão simbólica, onde todas elas tornaram-se referências positivas para geração passada e atual. Representando uma conquista para uma e abrindo-se caminhos para outra. Outro resultado são as políticas afirmativas como um elemento determinante na trajetória desta ascensão. Por fim, ocupar o espaço da universidade mostrou-se crucial na trajetória dessas mulheres, na construção de sua consciência crítica, ampliando suas visões de mundo e promovendo autonomia em suas ações. Assim, a pesquisa indica que a universidade pública tem um papel fundamental como instrumento de contínua reversão das desigualdades nos sistemas de ensino quando acessada pelos grupos marginalizados, e as políticas afirmativas auxiliam neste processo por uma educação plural e democrática. |