Resumo |
Neste estudo, 14 espécimes de três espécies da família Chelidae foram analisados: Phrynops geoffroanus (n=7), Mesoclemmys hogei (n=4) e Hydromedusa maximilliani (n=3). As duas primeiras representam o morfótipo de pescoço curto e a terceira, de pescoço longo. O estudo se restringiu ao acervo disponível no Departamento de Biologia Animal da UFV em função das medidas restritivas de isolamento social impostas pela pandemia de Covid-19. Trinta e cinco caracteres discretos, que possibilitam a comparação objetiva da variação nas oito vértebras cervicais, foram estudados em uma abordagem inter- e intraespecífica. Os dados descritivos, não detalhados aqui, foram quantificados a fim de detectar se existe diferença entre as espécies estudadas. Em geral, as primeiras vértebras cervicais C2-C5 apresentaram maior variação. A variação observada foi: C1, n=19 dos 35 caracteres; C2, n=24; C3, n=22; C4, n=22; e C5, n=22; C6, n=20; C7, n=20; e C8, n=19. Interpretamos que a menor variação observada nas vértebras posteriores (C6-C8) se devem ao aspecto morfofuncional associado aos diferentes hábitos alimentares de cada espécie, ocasionando a uma menor plasticidade nestas vértebras. Apenas três características não variam na amostra, o formato do centro vertebral, a projeção lateral da pós-zigapófise e a projeção dorsal da diapófise e possivelmente são características conservadas para os gêneros/família e com pouco valor taxonômico. Mesoclemmys hogei possui espinhos neurais das cervicais 3 a 7 (C3-C7) pouco desenvolvidos, enquanto H. maximilliani possui espinhos de bem a muito desenvolvidos da C3 a C7. Notamos que, em H. maximilliani, a orientação das articulações das pós-zigapófises é ventral do atlas (C1) até a C4, e subsequentemente ventrolaterais, mais ventrais que laterais, enquanto em M. hogei todas são ventrolaterais. Em P. geoffroanus, os processos das pré-zigapófises se estendem mais anteriormente que nas outras duas espécies, chegando à articulação anterior em muitas vértebras, na maioria dos indivíduos existem fossas profundas logo abaixo das epipófises. Através das características do atlas (C1) e do axis (C2) das três espécies, H. maximilliani é diferente de ambas espécies por possuir a C1 com processo das pós-zigapófises, espinho neural e epipófises e C2 com projeção das pré-zigapófises e espinho neural não projetado anteriormente. Como esperado, é mais fácil diferenciar H. maximilliani das demais espécies, por ser uma espécie de pescoço longo, enquanto P. geoffroanus e M. hogei, ambas de pescoço curto, compartilham mais características em comum. Preliminarmente, concluímos que o estudo sobre a variação morfológica das vértebras cervicais em Chelidae agregou novas informações relevantes para uma descrição e diagnose mais completa das espécies, bem como um melhor entendimento sobre a plasticidade morfológica observada. Além disso, os caracteres propostos poderão incrementar estudos futuros de cunho sistemático e taxonômico. |