Resumo |
No cenário contemporâneo do progresso técnico-informacional, as redes sociais funcionam como intermédio de interações de caráter variado, dentre as quais se enquadram as relações do poderio político. Hoje, grande parte dos debates ocorrem no meio virtual e, por conseguinte, tal espaço tem grande impacto sob todo processo político. Nesse contexto, existem processos tecnológicos que podem influenciar, fortemente, a formação política do poder, dentre os quais, nos últimos tempos, a desinformação vem ganhando destaque. Dito isto, o trabalho aqui posto busca se apropriar do conceito de poder da filósofa contemporânea Hannah Arendt, trazendo-o para o horizonte da desinformação, que, sob a referida ótica, gera prejuízos à formação de um poder político pensado enquanto relação. Dessa maneira, é pertinente explicitar que a teoria arendtiana traz a categoria do poder, sempre entendido em sua faceta política. Neste contexto, de maneira geral, poder tem relação com ação e disputa de interesses, por meio da palavra. Também se articula com possibilidade de consensos, ainda que frágeis, em cenários de ação em concerto; portanto, poder figura como um conceito de caráter essencialmente relacional. Assim, a desinformação, enquanto integrante dos processos de manipulação dos fatos e de homogeneização de meios virtuais, formando as chamadas “bolhas de isolamento”, será aqui analisada no que tange ao esvaziamento das possibilidades de articulação de debates e diálogos, visto a eliminação de opiniões divergentes em um mesmo espaço. Para tanto, discutiu-se sobre a obra “Da Violência” de autoria de Hannah Arendt e houve a realização de uma resenha crítica, seguida de uma apropriação conceitual visando a análise de cinco reportagens de agências de check facting relatando desinformações do período de campanha eleitoral de 2020. Em decorrência dessas análises, concluiu-se que a teoria arendtiana do poder, apesar de datar da segunda metade do século XX, situando-se ainda no momento pós-guerra e sem a existência da internet globalizada como hoje, pode ser um importante instrumental para analisar os fenômenos de desinformação no campo político, admitindo-se, no entanto, suas limitações para dar conta do cenário contemporâneo e sabendo que esta é apenas uma interpretação dos fatos. Ademais, foi possível visualizar como a desinformação é negativa para o processo político, gerando uma situação de desconfiança generalizada no panorama da formação da opinião popular. |