Resumo |
A pandemia de SARS-CoV-2 (COVID-19) pode ter impactado na vida dos agricultores familiares no que se refere à questão da diminuição da renda e dificuldade de produção e comercialização de seus produtos, culminando em aumento da insegurança alimentar. Ressalta-se que a insegurança alimentar pode ainda refletir mudanças de hábitos alimentares e, consequentemente, contribuir para a deficiência de iodo, levando ao risco de alterações no metabolismo da glândula tireoide. O objetivo deste trabalho é avaliar as condições sociodemográficas, de saúde, consumo de alimentos fonte de iodo e situação de insegurança alimentar de agricultores familiares durante a pandemia. Trata-se de um estudo transversal realizado no primeiro semestre de 2021, na zona rural de São Miguel do Anta-MG. Foram coletadas, através de questionário semiestruturado via telefone, informações sobre condições sociodemográficas, de saúde, situação de insegurança alimentar utilizando a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), consumo de alimentos fonte de iodo, exposição aos agrotóxicos e mudanças na produção de alimentos. Os dados foram analisados no SPSS (versão 20.0). Realizou-se as análises descritivas e o teste Exato de Fisher para verificar a associação entre as variáveis de interesse. O nível de significância foi de 0,05. Antes da aplicação do questionário foi lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os voluntários manifestaram o aceite em participar da pesquisa. O presente estudo faz parte de um projeto guarda-chuva submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres humanos da Universidade Federal de Viçosa (parecer nº 4.664.517). Participaram do estudo 30 agricultores familiares, sendo 53,3% (n=16) do sexo masculino, com mediana de idade de 49 anos (mínimo=28; máximo=58), escolaridade de 6,5 anos de estudo (mínimo=2; máximo=15) e renda de R$1.500,00 (mínimo=R$200,00; máximo=R$6.230,00). Verificou-se que 50% (n=15) dos agricultores familiares encontravam em situação de insegurança alimentar, 53% (n=16) consumiam algum alimento fonte de iodo e 6,7% (n=2) relataram ter hipotireoidismo. Entre os agricultores familiares 56,7% (n=17) relataram uso de agrotóxico, porém sem aumento do uso durante a pandemia. A preocupação dos agricultores, durante a pandemia, de que a comida acabasse antes que tivessem dinheiro para comprar mais alimento, esteve associada à situação de insegurança alimentar (p<0,001) e à redução na renda no período de pandemia (p=0,009). Conclui-se que a pandemia pode ter afetado as condições socioeconômicas e de segurança alimentar dos agricultores familiares, consequentemente impactando na saúde dos mesmos. Agradecimentos: À CAPES, FAPEMIG e CNPq. |