Resumo |
A predileção do ser humano por determinados grupos de animais, geralmente atrelada ao conhecimento popular, pode impactar as produções científicas. Dentre esses grupos, os insetos são uma classe bastante polêmica, visto que sua relação de longa data com a humanidade inclui tanto o amor quanto a aversão. Nesse contexto, o Programa de Educação Tutorial de Biologia da UFV realizou uma pesquisa para analisar as percepções de estudantes universitários sobre a importância ecológica de abelhas e vespas e se tais percepções são resultados de experiências pessoais. Almejou-se também, verificar se essas percepções influenciam quantitativamente o número de publicações científicas relacionadas com os invertebrados em questão. A primeira etapa envolveu a elaboração de um formulário via Google Forms, que foi enviado via email e redes sociais, aos acadêmicos do Curso de Graduação em Ciências Biológicas e dos Programas de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural, Entomologia e Biologia Animal da UFV. Para a segunda etapa, realizou-se um levantamento na plataforma Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), sobre o número de dissertações e teses envolvendo abelhas e vespas, entre os anos de 2010 e 2020, nas principais Universidades Federais de Minas Gerais (Unifal-MG, Unifei, UFJF, UFMG, Ufop, UFU e UFV). Os resultados evidenciaram que os discentes, geralmente, associam as abelhas à sua importância ecológica (polinização) no habitat, o que é um aspecto positivo, enquanto as vespas são associadas a fatores considerados negativos, como as ferroadas e zumbidos. Eles também evidenciaram que 90% dos discentes demonstraram sentimentos positivos em relação às abelhas (admiração, afeto e felicidade), enquanto 60% deles vincularam as vespas a sentimentos negativos (medo, perigo e indiferença). Vale salientar que 79,4% dos participantes afirmaram que influências externas interferiram na sua percepção atual sobre estes insetos e que 17,65% deles citaram que tem medo das vespas devido a eventos que ocorreram na infância e adolescência. O levantamento realizado na BDTD confirmou que, na maioria das Universidades, o foco das dissertações e teses são as abelhas (73.9%). Analisando apenas a UFV, o número de dissertações e teses sobre abelhas foi mais de quatro vezes superior ao número de produções sobre vespas (87 x 19). Os dados obtidos evidenciaram que as experiências pessoais e as opiniões de familiares e amigos, bem como o maior tamanho das vespas em relação ao das abelhas e a desinformação a respeito do papel ecológico das vespas nos levam a temê-las e desprezá-las. Mas, esses dois grupos de insetos desempenham importantes interações ambientais e não costumam atacar sem motivos. Assim, percebe-se claramente que a maior afinidade pelas abelhas, em detrimento às vespas, é construída culturalmente e que essa visão pode estar impactando as produções científicas.
Apoio Financeiro: MEC/SESu |