Resumo |
Em face da crise de saúde pública atual, desencadeada pelo novo Coronavírus e pela ineficiência de gestão por parte do Governo Federal, o presente trabalho tem o interesse em se elencar e discutir as dificuldades inseridas no âmbito da sobrevivência e da reprodução de grupos sociais historicamente marginalizados, tal qual, as mulheres pobres, negras, residentes de periferia, nesse caso, as de uma cidade média mineira e que assumem totalmente ou parcialmente o status quo de chefes de família. Isto posto, fora necessário buscar por materiais que tratassem com centralidade os papéis ocupados pelos diferentes sujeitos na constituição e organização do espaço doméstico, uma vez que, sabe-se que as mulheres apresentam-se enquanto as principais responsáveis por tarefas atreladas aos serviços reprodutivos e não remunerados, o que faz com que as mesmas criem dependência em relação aos seus cônjuges, principalmente, em um cenário pandêmico em que as mesmas vêm sendo atingidas massivamente por demissões, informalidade e precariedade trabalhista. Subsequentemente, as pesquisadoras voltaram-se a realizar uma intersecção entre as medidas preventivas contra a COVID-19 adotadas pelo estado de Minas Gerais, que findou na suspensão das aulas presenciais das instituições de ensino, implicando, consequentemente, em mudanças drásticas de rotina e renda familiar, uma vez que, nos últimos 2 anos percebeu-se um espessamento das obrigações e por consequência uma sobrecarga de trabalho das figuras femininas, afinal, a criança aprende desde cedo que a mãe é quem está mais disponível; a ela se atrela uma culpa, uma carga sócio histórica de que precisa dar conta de tudo e estar sempre acessível para atender aos membros da família. De tal modo, para que se tratasse do processo de naturalização do fato de que as funções desempenhadas por mulheres em âmbito doméstico são inerentes à essência feminina – verdadeiras representações de amorosidade – e comprovar a sobrecarga feminina exigida pela dinâmica de ensino remoto optou-se por empreender a divulgação de um questionário e sua resolução por um grupo de mães que trabalham ou tem um de seus filhos matriculados regularmente na E.E José Lourenço de Freitas em Viçosa, Minas Gerais. A aplicação das 10 questões buscou valer-se das impressões, pontos de vista e opiniões das convidadas, assim, o formulário aborda o estado civil, a ocupação laboral, o número de filhos e a educação empreendida em tempos de ensino emergencial remoto. Consoante a análise do questionário, fora possível concluir que independentemente da formação acadêmica e da ocupação laboral são, em 82,64% dos casos analisados, as mulheres as responsáveis pelas tarefas voltadas ao bem-estar da família e educação dos filhos, mesmo que, em 88,2% estas vivam com outros indivíduos que poderiam vir a dar conta da realização dessas atividades. Assim, é possível que se perceba o espessamento dos sentimentos de ansiedade, depressão e estresse entre essas mães durante a pandemia. |