Resumo |
A pesquisa resulta das reflexões teórico-analíticas e metodológicas, operadas na disciplina Prática de Ensino em Geografia, ofertada pelo Departamento de Geografia da Universidade Federal de Viçosa. Procedendo de uma articulação entre Literatura e Ensino de Geografia, mediante a temática do regionalismo mineiro. Visando operacionalizar esta relação dialógica, foi produzida uma história em quadrinhos inspirada na obra Ave, Palavra de João Guimarães Rosa e voltada aos discentes do 6º ano do Ensino Fundamental. Este trabalho se justifica na medida em que as tirinhas podem ser um instrumento de representação de uma linguagem textual e não-textual utilizado pelo professor para problematizar diversas questões que possam guiar o pensamento geográfico. Os objetivos da pesquisa foram: levar o discente a identificar a cultura mineira como um dos elementos do regionalismo mineiro; conduzir o aluno à práticas de produção artístico-cultural, despertando seu pensamento crítico, (e)motivando-o à ação reflexiva e prática diante do mundo em que vive; apresentar a Literatura como uma linguagem para se pensar e ensinar Geografia. O apelo em relação ao regionalismo mineiro presente na obra de Guimarães, foi o que alicerçou a construção do nosso protagonista, Chico Bento, e do próprio enredo. O dialeto de Chico Bento foi retratado por meio de palavras, expressões e gírias comuns ao personagem caipira. Buscamos regionalizá-lo, incluindo em suas falas o “mineirês” com os seguintes propósitos: refletir o espaço geográfico originário em que o personagem está inserido (meio rural) e suas condições sociais; trazer o conteúdo humorístico presentes nas tirinhas e atentar para a identidade linguística do interior do estado. Neste último aspecto, é importante ressaltar a presença recorrente do “R caipira” como um dos elementos que caracterizam o modo de falar do mineiro interiorano e de sua cultura. Através da trama proposta, na qual Chico Bento sai de Pato de Minas (MG) em direção ao Espírito Santo imbuído do sonho de conhecer o mar, é possível trabalhar com os alunos diversos conteúdos: diferentes paisagens passíveis de ser observadas pela transição de biomas, clima e relevo; caracterização de cidades do interior (e do próprio meio rural) e de metrópoles, como Belo Horizonte, marcadas pelo intenso processo de urbanização (os congestionamentos e ao mesmo tempo a velocidade da metrópole: os diferentes ritmos; a conurbação; a verticalidade); apresentação das peculiaridades das cidades históricas (São Thomé das Letras com suas construções antigas como casas, igrejas, monumentos, estradas de ferro e outras edificações de valor histórico, arquitetônico e patrimonial); símbolos da identidade regional mineira (culinária, danças e festas típicas, enfim, a cultura, o “jeito de ser mineiro/modus operandi”) e a apropriação socioespacial do lugar onde se vive; dentre uma infinita gama de possibilidades. Por fim, o professor deve levar os alunos a produzir as sínteses geográficas. |