Resumo |
A Floresta Atlântica é um dos biomas de maior biodiversidade do planeta e também um dos mais fragmentados. Para além da riqueza em espécies, nos fornece múltiplos serviços ecossistêmicos essenciais como produção de biomassa e sequestro de carbono, serviços estes decorrentes do crescimento das plantas. Duas estratégias opostas de crescimento de plantas, de acordo com a hipótese de trade-off crescimento-sobrevivência, são as de espécies aquisitivas, que apresentam crescimento rápido e são bem-sucedidas em habitats com muitos recursos; e as de espécies conservativas com crescimento lento e que toleram estresses em habitats com poucos recursos. O gradiente entre uma estratégia e outra origina diferentes arranjos funcionais ao longo do gradiente do trade-off crescimento-sobrevivência que explica grande parte da variação entre as espécies. Dentre as características mais utilizadas para a definição de estratégias das plantas estão os caracteres foliares, densidade da madeira, altura máxima da planta e tamanho do fruto e da semente. Destes, os caracteres de fruto e semente, os caracteres reprodutivos, são considerados os mais determinantes das estratégias das plantas por muitos estudos. O objetivo deste trabalho foi identificar quais características reprodutivas melhor explicam a altura das árvores, um proxy de crescimento de árvores, e testar a hipótese de trade-off crescimento-sobrevivência na floresta estudada. O estudo foi realizado em espécies de árvores recenseadas em 50 ha de Floresta Atlântica secundária no município de Frutal, MG, Brasil. As métricas da altura das espécies (altura máxima, altura média e moda da altura) foram diretamente obtidas de 74.335 árvores de 170 espécies. As espécies recenseadas tiveram as medidas das características reprodutivas e sua média aritmética adquiridas por várias fontes como artigos, dissertações, sites ou calculadas por consulta ao sistema Species Link. As características funcionais registradas foram comprimento e largura do fruto (CF e LF, respectivamente); comprimento, largura, espessura e volume da semente (CS, LS, ES e VS, respectivamente). Com os dados, foram gerados Modelos Lineares Generalizados (GLM) no ambiente estatístico R. O VS, CS, CF, LF foram as características com relação significativa sobre a variação da altura. O VS e CS foram os preditores com maior poder explicativo sobre a altura, o primeiro estando negativamente relacionado à altura máxima, em outras palavras, plantas maiores possuem um menor VS; e o CS estando positivamente relacionada à média da altura. As características funcionais de VS, CS, CF e LF, em especial as características de sementes, se mostraram eficientes para explicar o crescimento das árvores, a produção de biomassa e sequestro de carbono em altura na Floresta Atlântica reforçando o trade-off crescimento-sobrevivência como hipótese válida na explicação das estratégias de crescimento de árvores em florestas tropicais. |