Resumo |
Este trabalho busca refletir sobre os processos migratórios de nordestinos retornando de São Paulo para sua terra natal, enfatizando as múltiplas vulnerabilidades a que estão expostos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter documental, por meio da qual buscou-se analisar alguns aspectos relacionados aos processos de migração a partir de fontes secundárias e públicas, extraídas de sites jornalísticos. As análises se pautaram nos instrumentais da Análise do Discurso, buscando compreender as construções ideológicas dos textos no contexto da crise sanitária ocasionada pela pandemia da Covid-19 (Sars-Cov-2), cujo contexto é marcado por incertezas, medos e necessidade de superação. Essa crise é considerada uma das maiores já enfrentadas pela atual geração, sobretudo no cenário brasileiro, onde os meios para minimização e contenção da doença ainda estão a passos lentos. O processo analítico envolve reflexões sobre as múltiplas violências a que esses sujeitos 00estão susceptíveis no decorrer de suas jornadas migratórias, discorrendo sobre como essas violações se intensificaram no contexto da pandemia, ampliando os estigmas que recaem sobre esses sujeitos0. No contexto da pandemia, o fluxo migratório de retorno para o Nordeste vem ocorrendo de forma desenfreada, e desumana. Demitidos da grande metrópole da cidade de São Paulo, após construírem uma trajetória de vida longe de sua terra natal e terem vivenciado uma série de violências físicas, símbolos e institucionais, diversos nordestinos se concentram nas rodoviárias para retornarem para suas casas após perderem seus empregos e/ou fontes de rendas no decorrer da crise sanitária. Impossibilitados de pagarem por transportes regulares, muito migrantes acabam arriscando suas vidas em transportes clandestinos, como ônibus e vans irregulares, sem documentação e revisão, além de caronas em boleias de caminhões e outros meios que colocam suas vidas em risco. O grande fluxo migratório de retorno da cidade de São Paulo para cidades do interior do Nordeste tem resultado em um avanço significativo dos casos da Covid-19 em pequenas cidades do interior nordestino, sendo os migrantes culpabilizados pela propagação da doença. Além das múltiplas violências e estigmas que os migrantes nordestinos sofrem diariamente com o deslocamento primário de sua terra natal, a pandemia da Covid-19 se mostrou como um potencializador das mazelas sociais que estes vivenciam na cidade de São Paulo, potencializando a insegurança, o medo, a fome, a falta de emprego e a renda; ocasionando significativos impactos sociais e humanos. |