Resumo |
No contexto de uma alimentação saudável, recomenda-se a ingestão de três porções de lácteos/dia, porém o consumo desses alimentos é baixo em populações com risco cardiometabólico. Além disso, a maioria dos estudos apontam relação inversa entre consumo de lácteos e inflamação subclínica, enquanto que não existe consenso sobre o efeito desses alimentos na adiposidade corporal e no perfil lipídico. O objetivo do estudo foi investigar a relação entre consumo de lácteos (leite, queijo, iogurtes) e marcadores do risco cardiometabólico. Participaram do estudo 295 indivíduos com risco cardiometabólico (123 homens, 172 mulheres, 42 ± 16 anos), atendidos no Programa de Atenção à Saúde Cardiovascular-PROCARDIO-UFV (ReBEC nº RBR-5n4y2g). Dados sociodemográficos, clínicos, antropométricos e do estilo de vida foram coletados mediante consulta ao prontuário. Número de porções de lácteos consumidas por dia foi estimado mediante aplicação de recordatório 24 horas e avaliado segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira. A amostra total foi dividida em dois grupos: os que consumiam menos que 2 porções de lácteos/dia ou 2 ou mais porções/dia. Os exames bioquímicos (colesterol total (CT), LDL, HDL, triglicerídeos (TG), ferritina, proteína C reativa (PCR), glicemia e hemoglobina glicada (Hb1ac)) foram determinados por exame de sangue realizado após jejum de 12 horas no Laboratório de Análises Clínicas da Divisão de Saúde (UFV). O índice HOMA-IR foi calculado pela fórmula (insulina x glicemia)/ 22,5. Para análises estatísticas, foi realizado o teste de Kolmogorov-Smirnov, para avaliar a normalidade dos dados e os testes qui-quadrado de Person e Teste t de Student não pareado para comparação de frequência e médias, respectivamente. As análises foram realizadas no SPPS, v.24, considerando nível de significância de 5%. Como resultados, o consumo de duas ou mais porções de lácteos/dia foi mais prevalente entre as mulheres (38,4% vs 17,1%, p<0,001), entre aqueles com maior escolaridade (32,3% vs 10,3%, p=0,001), solteiros (36,5% vs 22,1%, p=0,007) e não fumantes (34,8% vs 18,3%, p=0,004). Além disso, o grupo que consumiu duas ou mais porções de lácteos/dia apresentou menores médias de perímetro da cintura (100,0 vs 95,8 cm), RCQ (0,9 vs 0,8), RCE (0,6 vs 0,4), glicemia (108,5 vs 125,6 mg/dL), HOMA-IR (2,7 vs 2,0), colesterol total (175,3 vs 225,6 mg/dL), LDL (126,2 vs 104,4 md/dL), PCR (3,6 vs 2,3 mg/dL) e ferritina (150,5 vs 65,9 mg/dL), além de maior média de HDL (57,3 vs 41,4 mg/dL), comparado aos que consumiam menos de duas porções/dia e, considerando p<0,05 para todas as variáveis. Em conclusão, a maior ingestão de lácteos foi relacionada à menor adiposidade, inflamação subclínica, melhor perfil lipídico, glicemia e resistência insulínica em indivíduos com risco cardiometabólico atendidos no PROCARDIO-UFV, sugerindo que o consumo desses alimentos pode ter efeito cardioprotetor e contribuir para o controle das doenças cardiovasculares. |