Resumo |
Este trabalho pretendeu observar os aspectos linguísticos que configuram as letras de músicas brasileiras e de que forma contribuem para a manutenção da representação da mulher que permeia o imaginário coletivo da nossa sociedade. As músicas selecionadas correspondem a diversos gêneros e perpassam as décadas de 20 aos dias atuais. O amplo recorte temporal se justificou pelo fato de que foi intuito dessa pesquisa perceber reminiscências da representação da mulher sob o viés masculino e como essa representação se estende, a partir de mudanças de escolhas linguísticas, à atualidade. Assim, pretendeu-se perceber como a mudança linguística pode ser pautada de forma sistemática e funciona, muitas vezes, como mecanismo para amenizar situações antes postas de forma explícita e, hoje, contribuem com a violência de gênero, ora ainda de forma explícita, ora de forma velada. A questão da representação foi também questionada aqui. Embora a arte permita o movimento de representação, pretendeu-se discutir o porquê dessa representação ser majoritariamente masculina. Ou seja, em um circuito social em que homens e mulheres não têm as mesmas possibilidades ou a mesma visibilidade intelectual, é de se questionar o lugar de fala, ou o não-lugar. A análise das letras pretendeu mostrar o movimento de reprodução da representação da mulher fadada ao espaço doméstico, sendo também domesticada e docilizada por instituições de poder, como a Igreja e o casamento. Com o acesso às escolas, torna-se fundamental questionar o conceito de cultura, além do papel da instituição também na manutenção de valores e saberes pré-estabelecidos aos gêneros, relegando à mulher a sentimentalidade, a docilidade e a emoção. Também refletimos, a partir deste trabalho, que as músicas não são somente reprodução de uma sociedade que naturaliza a violência contra as mulheres, mas têm papel ativo em estimular, em certa medida, a violência contra a mulher. Assim, questionamos o papel da música como elemento cultural, transmitido sem que haja um controle rigoroso sobre sua reprodução. Da mesma forma, percebemos essa matriz cultural do patriarcado no contexto educacional, reforçado, muitas vezes, pela reprodução de músicas com esse caráter agressor compartilhado no espaço escolar. Os questionamentos trazidos a partir deste trabalho buscam romper com a lógica patriarcal, que “continua permitindo que a categoria homens assegure, inclusive por meio da violência, sua supremacia.” (SAFFIOTI, 2002, p.59). |