Resumo |
Interações simbióticas (associação entre dois organismos ou mais, durante um período significativo), parasíticas ou não, envolvem custos para as espécies envolvidas. Para que tais interações alcancem estabilidade ecológica e evolutiva, estes custos não podem exceder limites toleráveis, pois isso poderia levar a extinção de um dos simbiontes, rompendo assim o vínculo dessa relação. Espera-se portanto, que nos casos de interações simbióticas assimétricas, onde um dos agentes depende mais da interação do que o outro, o simbionte mais dependente apresente características que culminem em custos mais toleráveis ao seu hospedeiro. No caso específico do inquilinismo obrigatório em cupins, a espécie invasora não tem a capacidade de construir ninhos, dependendo assim da colônia hospedeira para sobreviver. Por outro lado, o hospedeiro persiste na ausência da colônia inquilina. Dessa forma, os inquilinos obrigatórios de cupins são mais dependentes da interação do que os hospedeiros. Cupins da espécie Inquilinitermes microcerus são inquilinos obrigatórios de ninhos de Constrictotermes cyphergaster. Logo, espera-se que I. microcerus inflija baixo custo ao seu hospedeiro. Sabe-se que I. microcerus adota comportamentos evasivos ao coabitar ninhos de C. cypergaster: (i) usam galerias diferentes daquelas usadas pelo hospedeiro; (ii) usam dietas distintas de seus hospedeiros; (iii) não apresentam pistas químicas prontamente detectáveis pelo hospedeiro. Uma hipótese vigente na literatura atribui a tais comportamentos evasivos, a função de evitar encontros e potenciais conflitos com o hospedeiro, o que minimizaria o custo do inquilinismo. Tal hipótese, entretanto, ainda não foi testada diretamente. Assim, o presente trabalho teve como objetivo testar a hipótese de que comportamentos evasivos, adotados por I. microcerus resultem em redução de custos ao seu hospedeiro C. cyphergaster. Há várias formas de verificar os custos de uma interação, como medidas de crescimento, reprodução e sobrevivência. Neste trabalho utilizamos, a taxa de sobrevivência para medir os custos do inquilino sobre o hospedeiro quando confinados num mesmo espaço e portanto forçados a se encontrar. Constatamos que a sobrevivência do hospedeiro, na presença do inquilino é significativamente menor do que nos tratamentos monoespecíficos (hospedeiros confinados sozinhos). Este resultado indica que o encontro é custoso ao hospedeiro, confirmando nossa hipótese. Sendo assim, comportamentos evasivos de I. microcerus podem, de fato, reduzir potenciais custos ao hospedeiro. É possível supor que os inquilinos foram selecionados de forma a minimizar danos inflingidos à colônia hospedeira, adotando comportamentos evasivos e com isso viabilizado a cohabitação num mesmo ninho. Tais comportamentos do inquilino, como demonstrado, trazem vantagem ao hospedeiro, já que diminuem o custo de um possível encontro entre eles, e com isso, mantêm a estabilidade ecológica e evolutiva deste inquilinismo específico. |