Resumo |
O presente trabalho compõe o desenvolvimento de parte de um projeto que vem sendo desenvolvido em algumas localidades do estado de Minas Gerais, a partir da abordagem de uma série de processos relacionados à dialética rural/urbana. O objetivo principal do projeto consiste em identificar e analisar práticas sociais acerca dos usos do espaço e o modo como são percebidas e narradas as transformações sociais e espaciais experimentadas por diferentes populações, rurais e urbanas. O projeto traz uma proposta de análise das políticas e concepções de desenvolvimento, as territorialidades e as migrações, sendo observadas as diferentes tensões, formas de conexões e redes sociais presentes nas configurações sociais e sócio espaciais. Nessa etapa, o presente texto se refere à um olhar sobre o processo migratório de famílias oriundas dos municípios de Ipanema e Pocrane, ambos situados na porção leste de Minas Gerais, rumo à região de Espera Feliz-MG em função das lavouras de café nesse município. A produção de café na região esperafelicense tem se apresentado como um campo de possibilidades de “alavancar a situação econômica” das pessoas que se predispuseram, ou se predispõem, a trabalhar o cultivo do café. Assim, essa localidade despontou no imaginário de várias famílias de regiões vizinhas, como Ipanema, sendo um lugar do fazer a vida. Durante a pesquisa, atrelado a um percurso bibliográfico, nos ocorre que pensando uma conexão global, ao regressarmos aos anos 1960 com a crise do café seguida de sua erradicação financiada no decorrer da referida década, um contexto de crise mundial, mas que recai diretamente sobre o local, traz consigo uma reconfiguração das práticas em várias regiões cafeeiras. Nesse contexto, ao contrário de Espera Feliz, a região de Ipanema não consegue regressar ao plantio de café. Sem querer, obviamente, atrelar a iniciativa dessas famílias de migrar somente a um fator puramente econômico ou sob influência de características puramente externas, mas são dinâmicas que não se encontram de maneiras isoladas e que também alcançam algum eco. O que se apresenta é um processo de migração rural-rural que nos permitiu avançar numa compreensão dos projetos de vida das famílias envolvidas nos processos de migração, compreender algumas noções de desenvolvimento presente em tal processo, bem como as redes estabelecidas pelos sujeitos da pesquisa. Para tanto, o uso da história oral como parte da metodologia, juntamente a entrevistas semiestruturadas e a observação participante, nos permitiu um acercamento à perspectiva destes migrantes com relação a tal processo e das redes que se constituem nesse cenário. |