Resumo |
Em tempos de pós-modernidade, num contexto de forte vazio ético, o interesse do homem periférico pelas religiões ressurge como espaço de resistência, inclusive frente às opressões de classe. Nos últimos censos realizados no Brasil, percebe-se, no campo religioso brasileiro, uma efervescência muito intensa entre as denominações chamadas neopentecostais, que possuem ampla adesão das camadas mais pauperizadas. Guiados pelo carisma da teologia da prosperidade, esse modo de ser da religião, avança aos mais longínquos rincões do Brasil. Nesse sentido, a pesquisa em andamento, visa compreender o impacto do ethos neopentecostal em beneficiários do Programa Bolsa Família na cidade de Porto Firme, buscando compreender como esses valores religiosos são internalizados pelo sujeito, orientando a sua percepção de mundo e condicionando ou não suas ações na vida prática, em especial, no trato do benefício recebido através do programa. Para tanto, em fase exploratória, procedeu-se uma observação direta durante os cultos realizados na cidade já citada, em igrejas que seguem a tendência teológica em questão (Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Mundial do Poder de Deus), além de entrevistas com membros dirigentes dessas instituições. Observações preliminares de campo evidenciam, em primeiro lugar, que o dinheiro ocupa posição privilegiada no encontro com o sagrado, sendo ele o seu elemento mediador. Assim, os bens materiais e o conforto financeiro são as provas definitivas da “presença divina atuante” na vida das pessoas. Foi invariável o discurso sobre a aliança do fiel com Deus, onde o sacrifício financeiro na forma de dízimo e a participação também financeira em propósitos específicos da igreja demonstram a fé do sujeito e o colocam em posição privilegiada diante da providência, que multiplica seus bens provendo a prosperidade. Secundariamente, é mister frisar que questões como a boa saúde, a libertação dos vícios e a harmonia familiar aparecem como importantes na composição dessa ideia de prosperidade, não obstante, sejam incidentais ao homem abundante economicamente. Não há uma orientação específica por parte de pastores e obreiros em relação aos beneficiários da Bolsa Família; todavia, o que é comum no ensino das igrejas pesquisadas é que o homem tocado pela sabedoria divina é previdente na adversidade, pensando não na satisfação imediata, mas antes numa perspectiva de médio e longo prazo, onde o trabalho e o dinheiro, mesmo escasso, deve sempre ser visto como capital de investimento, visando a sua multiplicação. Sem embargo fica como nota que, na Igreja Universal do Reino de Deus, a visão “empresarial” é mais acentuada, enquanto na Igreja Mundial do Poder de Deus o dinheiro tem fontes um pouco menos racionais. Dito isso, conclui-se que, por parte das Igrejas, existe um encorajamento geral para que o fiel ascenda financeiramente; isto é, alcance prosperidade em sua vida como prova de eleição divina. |