Resumo |
A chamada modernização da agricultura, que utiliza o pacote da Revolução Verde, se instalou no Brasil entre as décadas de 60 e 70, por meio de programas que priorizavam o aumento da produtividade agrícola. A Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) do país passou então a difundir o pacote tecnológico (agrotóxicos, adubos químicos, monoculturas, transgênicos) da revolução verde, o qual nega todo o saber da agricultura camponesa e familiar. Com a volta da democracia (década de 80), o movimento da agricultura alternativa se fortaleceu e nos anos 90 este movimento passou a se identificar com a agroecologia. Para a construção da agroecologia, muitos desafios técnicos e metodológicos precisaram e precisam ser superados. Isto porque a agroecologia não é apenas um conjunto de técnicas, mas um processo social que tem como base a horizontalidade e a construção de novos saberes, a partir da articulação entre os saberes técnico-científicos com a sabedoria popular. O Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata mineira (CTA-ZM), desde 1988, contribui com esse processo, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa, sindicatos da agricultura familiar, cooperativas e movimentos sociais da região. Em 2013, o CTA aprovou o projeto ATER agroecologia, fruto de uma política de incentivo à produção orgânica e agroecológica de um governo popular. A proposta objetivou ampliar o número de famílias em processo de transição agroecológica. A partir da premissa da construção compartilhada dos conhecimentos, o projeto ATER agroecologia realizou um amplo conjunto de ações, como oficinas, visitas técnicas e intercâmbios agroecológicos. Os intercâmbios, baseados na metodologia camponês a camponês, são encontros que possibilitam a formação de ambientes de interação agroecológica, que permitem aproximar os saberes científicos e populares. É neste processo que os tesouros da agricultura familiar são revelados. As famílias agricultoras e camponesas beneficiárias do projeto diferenciam-se desde a composição familiar e o nível de diversificação das propriedades até a renda e o tamanho da terra, mas guardam uma característica comum: a busca por uma agricultura soberana e em harmonia com a natureza. Estas famílias são e possuem verdadeiros tesouros, dentre eles o conhecimento e inúmeras tecnologias sociais, mas que são descuidados pelos responsáveis pelas políticas públicas. Estes tesouros uma vez conectados com à agroecologia tornam-se a chave no processo de transformação social que se busca. O projeto ATER agroecologia formou uma verdadeira rede de conhecimentos, que se transformou em uma rede de práticas e vem consolidando e ampliando a agroecologia na região. O protagonismo das famílias agricultoras na construção do conhecimento agroecológico, pesquisadoras de suas próprias experiências, que buscam e reivindicam alternativas que contemplem seus modos de produção, de vida, de trabalho e cultura, tem se evidenciado como o caminho rumo à uma agricultura agroecológica. |