Resumo |
A Serra do Brigadeiro, remanescente de Mata Atlântica que se encontra na porção norte do conjunto serrano da Mantiqueira, área de Zona da Mata de Minas Gerais, é um conjunto de fragmentos de mata de extrema importância para a conservação da fauna e flora. Associado a isso, muitos estudos de composição são feitos, visto que não se conhece a totalidade de espécies que existem no local. Quanto à anurofauna – sapos, rãs e pererecas - a Serra do Brigadeiro abriga, dentre outras, populações de uma espécie de sapinho pingo-de-ouro (gênero Brachycephalus Fritzinger, 1826) que até 2012 era identificada como B. aff. ephippium Fritzinger, 1826. Este gênero sofreu, durante o processo evolutivo, miniaturização do tamanho do corpo, perda de falanges das mãos e pés, perda de ossos do crânio e, associado a estas características, hiper-ossificação de estruturas do crânio e do dorso que se desenvolveram em 1) placas paróticas e 2) placas paravertebrais e espinhais, respectivamente. A partir de comparações mais precisas entre os espécimes de B. ephippium da localidade tipo, Rio de Janeiro, foram apontadas notáveis diferenças morfológicas entre os indivíduos destas populações. Com a finalidade de desvendar a identificação dos Brachycephalus da Serra do Brigadeiro, foram feitos estudos da morfologia externa, histologia, canto e osteologia, esta última aqui apresentada. Para as análises e descrições osteológicas, três espécimes depositados na Coleção de Anfíbios do Museu de Zoologia João Moojen – UFV foram submetidos ao processo de diafanização, técnica laboratorial que se utiliza de hidróxido de potássio para tornar os músculos translúcidos, Alcian Blue para corar cartilagem de azul e Alizarina vermelha para corar ossificações de roxo, o que possibilita a diferenciação entre estes tecidos. Como resultado, foi observado que os indivíduos da Serra do Brigadeiro apresentam, no crânio, placa parótica bem desenvolvida, de com conformação convexa e ornamentada com espículas ósseas dermais; nasais, esfenoide, frontoparietais, proóticos e exocipitais fundidos formando uma placa craniana dorsal com ornamentação óssea dermal. No esqueleto pós-craniano, foi observado que a cintura escapular é arciférica e robusta; omosterno e esterno ausentes; coluna vertebral composta por oito vértebras pré-sacrais; presença de placas espinhais associadas aos processos espinhas das vertebras I a VIII, sendo as placas I a III no formato trapezoide e superfície dorsal convexa; presença de placas paravertebrais quadradas com as bordas externas arredondadas, superfície dorsal convexa e ambas estruturas – placas paravertebrais e espinhais – cobertas por ornamentações ósseas. Como resultado, foi observado que morfologia osteológica dos indivíduos da Serra do Brigadeiro sugere que a população dali seja uma nova espécie em decorrência do formato das placas paróticas, espinhais e paravertebrais, que são diferentes das do B. ephippium e de todas as demais espécies do gênero. |