Resumo |
A presente pesquisa pretendeu discutir a importância de se oferecer atenção às redes relacionais discentes construídas nos cotidianos da Universidade Federal de Viçosa/MG (UFV), sendo essas redes entendidas como produtoras de diferentes currículos e conhecimentos não institucionalizados na universidade. Assim, por considerarmos a vida universitária como sendo um espaço formativo que se estende para além das salas de aula, seguir as construções grupais erigidas pelos estudantes pode vir a ser um significativo espaço para problematizar não apenas o que é dado como já estabelecido, mas também para pensar as ações e modos de existir que estão em vias de emergir em diferentes contextos. Como, pois, o movimento estudantil da UFV tende a estabelecer contatos, conflitos e parcerias com diferentes grupos estudantis na universidade, colocamos em análise, a partir do acompanhar do processo eleitoral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) para o ano de 2016, os modos de produção de vida, de sentido e de políticas que animam o atual movimento estudantil da instituição. Assim, nesta pesquisa nos preocupamos em pesquisar motivações – pessoais e coletivas – que nutriram a constituição de diferentes grupos de política do movimento estudantil da UFV e traçar suas possíveis ramificações, influências e interferências com outros movimentos e com a vida institucional. Para a instrumentalização da presente pesquisa, realizamos uma etnografia de diferentes Conselhos Estudantis (CoEs), ocorridas durante o segundo semestre de 2015, logo após a eleição para o DCE, quando houve uma indefinição eleitoral do pleito, com a impugnação das duas chapas concorrentes. Realizamos também entrevistas com protagonistas das reuniões do Conselho Estudantil ocorridas em 2015, totalizando sete entrevistas com participantes das duas chapas envolvidas no pleito pelo DCE e também com membros de coletivos estudantis presentes aos CoEs. Ao acompanhar, pois, os desdobramentos da eleição para o DCE 2015, encontramo-nos diante de duas chapas (“Ocupação” e “DCE para Todos”) que traziam propostas políticas diferentes ao movimento estudantil. A primeira chapa trazia questões referentes a políticas sociais, enquanto a segunda se concentrava em lógicas de empreendedorismo. Esse conflito se estendeu para depois da eleição, quando pudemos seguir as articulações de diferentes grupos estudantis (chamados de “coletivos”) e a interferência de tais articulações nas prioridades do DCE. Concluímos, portanto, que o movimento estudantil da UFV não se restringe apenas à questão institucional envolvida na organização da relação DCE-Centros Acadêmicos, sofrendo, por sua vez, a influência de diferentes “coletivos” que, com pautas variadas (diversidade sexual, feminismo, questões étnico-raciais, etc) e muitas vezes sendo organizados por instâncias externas à universidade (como o caso dos coletivos “Rebele-se” e “Quilombo”) têm interferido de maneira significativa nas definições das políticas que vicejam no DCE. |