Resumo |
A fixação dorsal de patela é um problema funcional que acomete a articulação fêmoro-tíbio-patelar, dificultando ou impossibilitando o deslizamento da patela no sulco troclear medial do fêmur. Como consequência, ocorre hiperextensão temporária ou permanente da articulação. Como principais fatores predisponentes destacam-se o defeito de conformação reto de detrás, crescimento exagerado da tróclea medial do fêmur e o inadequado condicionamento do músculo quadríceps femoral. Se a alteração no andamento é frequente e contínua, tratamento cirúrgico é recomendado. Por outro lado, em casos discretos e esporádicos, particularmente em animais jovens, pode-se realizar uma terapia conservadora. O objetivo desse relato foi registrar a utilização de tratamento conservador em um garanhão Mangalarga Marchador, três anos de idade, 350 kg, portador de discreto e temporário quadro de fixação dorsal de patela. O animal foi atendido no Hospital Veterinário (HOV) da Universidade Federal de Viçosa, com histórico de alteração no movimento dos membros pélvicos (MPs), iniciado havia seis meses. A anamnese revelou que o problema havia começado após início da doma, sendo então realizados casqueamento e ferrageamento, o que resultou em diminuição da gravidade do quadro clínico, porém o animal passou a arrastar as pinças dos cascos durante locomoção. Exame físico estático revelou MPs com muralha comprida, com maior desgaste das ferraduras na região das pinças. Os cascos estavam ressecados e a sola apresentava formato plano. Durante exame dinâmico foi constatado que as pinças dos cascos dos MPs eram arrastadas no solo de forma intermitente, quando o animal era deslocado ao passo em linha reta e mais acentuadamente durante o movimento em círculo. Finalmente, foi possível observar discreta, porém rápida, hiperextensão das articulações fêmoro-tíbio-patelar de ambos MPs, seguida por abrupta flexão das mesmas. Diante da apresentação clínica, o proprietário foi questionado se o quadro era mais frequentemente observado em algum momento do dia, sendo constatado que ocorria particularmente pela manhã, reforçando a possibilidade de fixação dorsal de patela. Por se tratar de uma alteração de ocorrência esporádica em um animal jovem, foi preconizado tratamento conservativo para fortalecimento e condicionamento do quadríceps femoral e demais músculos da região. Foram prescritos os exercícios controlados caminhada ao passo guiado pelo cabresto (10 a 15 min); movimento de recuo em linha reta (5 min), e a prova funcional retração dos MPs (2 vezes/dia) durante dois meses, quando então o animal foi novamente examinado. Na reavaliação não foi constatada hiperextensão das articulações, evidenciando a eficácia do condicionamento físico e do fortalecimento do tônus muscular para o tratamento da fixação dorsal de patela em grau discreto. O fato de ser um animal jovem, o treinamento controlado associado ao casqueamento e ferrageamento adequados pode reduzir a possibilidade de recidiva. |