Resumo |
A violência contra mulher consiste em qualquer ato que resulta em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento para a mulher, sendo considerado um fenômeno multidimensional e problema de Saúde Pública. Dentre os diversos fatores envolvidos, a desigualdade de gênero é a principal causa da ocorrência dessa violência, em consequência de uma ideologia que define a condição feminina como inferior à condição masculina. Embora existam políticas públicas voltadas à prevenção e combate, o número de mulheres vitimadas é alto e o problema tem magnitude ainda maior diante dos fatos subnotificados. Esta subnotificação pode ser atribuída ao silêncio de vítimas, dado por diferentes motivos como medo, vergonha entre outros, e ainda, aos impasses comunicacionais entre vítima e profissionais que nem sempre estão preparados para prestar assistência a essa mulher e acabam contribuindo para mascaramento dos dados. Com objetivo de caracterizar o evento "violência" e proporcionar maior visibilidade e compreensão deste fenômeno no município de Viçosa-MG, o "Observatório da Violência contra a mulher" ligado, ao Programa Casa das Mulheres, coordenado pelo NIEG/UFV, realiza levantamentos dos casos ocorridos e atendidos no município em instituições que compõe a rede não especializada de atenção à mulheres em situação de violência. O presente estudo, foi realizado a partir de dados coletados no período de 2009 a 2014 e incluiu todos os casos de violência contra a mulher ocorridos em Viçosa e notificados pelos serviços de saúde, delegacias de polícia (Civil e Militar) e Casa das Mulheres. Os resultados da análise consideraram os 3063 casos notificados no período. Quanto à fonte notificadora, a Delegacia foi a unidade com maior número de notificações. Do total de casos, 77% ocorreram nas residencias das mulheres, 33% no período da noite e principalmente aos domingos (20%). Quanto ao tipo de violência, a psicológica foi a de maior ocorrência (63,5%) seguida pela violência física (59%). Em 46% dos casos, a violência era reincidente. Quanto ao perfil das mulheres em situação de violência, 75% encontravam-se na faixa etária de 20 a 49 anos, 47% possuíam ensino fundamental incompleto e 18% das mulheres eram donas de casa. Em relação à raça/etnia, 58% das mulheres são afrodescendentes. Dos agressores, 93% são do sexo masculino e a maioria são os cônjuges da vítima (36%). Em 20% das informações obtidas, houve suspeita de uso de álcool por parte do agressor. Observa-se a situação de risco dessas mulheres principalmente no âmbito doméstico, visto que a maioria dos casos ocorreu nas residências e foram praticados por parceiros íntimos. Considerando o exposto, a agressão à mulher merece a atenção dos diferentes serviços no intuito de promover políticas e assistência que proporcionem maior qualidade à vida daquelas que ainda hoje, lutam por igualdade e liberdade. Portanto, é necessária uma rede de suporte coesa que vise principalmente, a prevenção desse tipo de agravo. |