Resumo |
Nossa pesquisa desenvolveu uma análise das estratégias linguístico-discursivas utilizadas para a construção dos ethé dos candidatos à presidência da República nos debates políticos das eleições de 2014. Buscamos verificar como os candidatos ditos “periféricos” (candidatos com menor espaço nos debates e com menores chances de elegibilidade, como, por exemplo: Levy Fidelix, Eduardo Jorge, Pastor Everaldo, Luciana Genro) constroem positiva ou negativamente suas imagens pelo/no discurso em relação ao conceito de vrbanitas (Cícero/Quintiliano), que regulamenta o uso do riso pelo orador. Pesquisa qualitativa, tendo por suporte teórico-metodológico a Teoria Semiolinguística (P. Charaudeau) e a reinterpretação dos conceitos de ethos (D. Maingueneau) e de vrbanitas (R. Vale) enquanto categorias de análise no quadro da Análise do Discurso. Com base nisso, nossos objetivos foram: a descrição situacional do gênero debate político televisivo; a descrição semiolinguística do discurso dos candidatos ditos periféricos; e a identificação, em cinco debates presidenciais do 1º turno das eleições de 2014, de atos de comunicação com potencial humorístico, ou seja, identificação dos momentos em que o uso do riso pode ser percebido enquanto estratégia discursiva no discurso desses candidatos. A pesquisa justificou-se pelo fato do humor ser relativamente pouco estudado no domínio da prática política. Evidenciamos, após ter sido feita a análise situacional do gênero debate político televisivo, algumas características importantes, como, por exemplo: uma imparcialidade dúbia por parte das emissoras; e uma considerável ocorrência de atos de comunicação humorísticos utilizados pelos candidatos ditos “periféricos”. Com relação às análises dos atos humorísticos, evidenciamos que grande parte dos possíveis efeitos visados pelos candidatos na realização dos atos humorísticos tinha como objetivo diminuir, de forma mais ou menos agressiva, os seus alvos. Percebeu-se também o uso do sarcasmo como categoria de humor predominante, e os alvos mais comuns eram os candidatos que estavam presentes nos debates, principalmente, os que possuíam mais chances de ganhar (Marina, Dilma e Aécio). Partindo de uma ideia prototípica dos candidatos com base nos ethé políticos propostos por Charaudeau (2015), foi possível perceber que os candidatos algumas vezes extrapolaram no uso do humor, ocasionando assim um efeito prejudicial sobre o ethos que eles acabaram por construir, construindo também uma imagem avessa ao que espera de um candidato, uma vez que infringiram as prescrições da vrbanitas. A partir disso, evidenciamos a importância do humor, no gênero debate político televisivo, para a construção da imagem dos candidatos. |