Resumo |
A implementação da Instrução Normativa nº 51 (BRASIL, 2001), que estabeleceu a obrigatoriedade do armazenamento e do transporte do leite cru em temperaturas de refrigeração contribuiu para a predominância de bactérias psicrotróficas no leite cru. Dentre estes contaminantes psicrotróficos, Serratia liquefaciens possui alto potencial deteriorador proteolítico. Entretanto, seu potencial deteriorador lipolítico ainda não foi estudado. Assim, este trabalho objetivou a avaliação da atividade lipolítica de 17 cepas de S. liquefaciens isoladas do leite cru refrigerado por meio do teste qualitativo, com o substrato tributirina e do teste quantitativo, com o substrato p-nitrofenilpalmitato (p-NPP). As cepas foram incubadas a 30 °C por 24, 48 e 72 h em ágar tributirina, um triglicerídeo que contém três moléculas de ácido butírico (C4:0), esterificada com glicerol. A produção de enzimas lipolíticas foi avaliada pelo Índice de Ativação Enzimática (IAE), obtido pela razão entre o diâmetro do halo translúcido ao redor da colônia (R) e o diâmetro da colônia(r). Cepas que apresentaram IAE maior que 1,0 foram consideradas lipolíticas. Por este teste, foi possível avaliar que todas as 17 cepas produziram enzimas lipolíticas. Posteriormente, foi realizado um zimograma com o substrato metilumbeliferil-butirato, no qual uma banda de, aproximadamente, 60 kDa referente a hidrólise do substrato foi visualizada. Todas as cepas foram submetidas ao teste com o p-NPP, substrato específico para lipases, que liberam, após hidrólise, o ácido palmítico e o p-nitrofenol (p-NP) no meio. O p-NP liberado é detectado em espectrofotômetro a 410 nm e, a partir da quantidade deste cromóforo no meio, quantifica-se a atividade lipolítica. Por este teste quantitativo foi possível confirmar o teste qualitativo além de se constatar alta heterogeneidade na atividade lipolítica, que variou de 0,49 a 4,49 Unidades Arbitrárias por mililitro (UA/mL) entre as 17 cepas. Com este trabalho foi possível demonstrar que cepas S. liquefaciens isoladas do leite cru possuem capacidade de produzir lipases. Estas enzimas podem causar vários problemas tecnológicos no leite e seus derivados, como a formação de sabores desagradáveis em produtos lácteos em razão da hidrólise de triglicerídeos presentes no leite. A heterogeneidade encontrada entre as cepas pode ser explicada pelas diferenças nos níveis de expressão da enzima ou por modificações pós-traducionais. |