Resumo |
A desnutrição hospitalar infantil é um desafio na prática clínica. A identificação do risco nutricional deve ser realizada de forma precoce, mas ainda não há consenso quanto ao melhor método para a triagem em pediatria. Recentemente, o instrumento de triagem pediátrica StrongKids foi traduzido e adaptado para o Brasil. O objetivo deste estudo foi avaliar a aplicabilidade e a associação deste método com parâmetros nutricionais objetivos em crianças internadas em um hospital filantrópico no município de Viçosa, Minas Gerais. O StrongKids foi aplicado no período de outubro de 2015 a julho de 2016 e foram coletadas informações sociodemográficas, clínicas, bioquímicas, dietéticas e antropométricas das crianças hospitalizadas. A correlação entre a pontuação do StrongKids com as variáveis nutricionais foi investigada pelo teste de Correlação de Spearman. A distribuição das variáveis segundo a classificação categórica do método (baixo, médio ou alto risco) foi avaliada pelo teste de Anova (post hoc de Tukey) ou Kruskal-wallis (post hoc de Dunn), conforme a assimetria das variáveis. Adotou-se p<0,05 como indicativo de significância estatística. Foram avaliadas 170 crianças, sendo 57,1% do sexo masculino e com mediana de idade de 2,65 anos (mín=0,2/máx=13,2). Segundo a avaliação antropométrica, 12,4% foram classificadas como magreza, 11,8% com risco de sobrepeso e 8,2% com excesso de peso. De acordo com a triagem pelo Strongkids, 11,2% das crianças estavam em alto risco nutricional, 68,8% apresentavam médio risco e 20% baixo risco. Foi identificada correlação direta entre a pontuação do StrongKids com o tempo de hospitalização (rho: 0,46; p<0,001), concentração de Proteína C Reativa (PCR) (rho: 0,21; p=0,026) e a perda de peso (rho:0,378; p<0,001). As variáveis consumo energético (rho: -0,448; p<0,001), de carboidratos (rho:-0,454; p<0,001), proteínas (rho:-0,369; p<0,001), lipídios (rho:-0,343; p<0,001) e de ferro (rho: -0,289; p=0,002) se correlacionaram de forma inversa, indicando que as crianças com perda de peso e menor consumo alimentar apresentavam maior risco de desnutrição. Quando avaliada a classificação categórica do método, as variáveis tempo de internação (p<0,001) e PCR (p=0,025) aumentaram à medida que o risco nutricional foi maior, enquanto que houve diminuição no consumo de energia (p<0,001), carboidratos (p<0,001), proteínas (p<0,001), lipídios (p<0,001) e ferro (p=0,004). Tanto o sistema de pontuação quanto a classificação categórica do StrongKids apresentaram associações relevantes com parâmetros objetivos relacionados ao estado nutricional, o que sugere sua utilidade como uma ferramenta na identificação de crianças em risco nutricional. |