Resumo |
Entre os organismos patogênicos de veiculação associada ao abastecimento de água para consumo humano destacam-se os protozoários, como Giardia e Cryptosporidium, cujos cistos e oocistos são de difícil remoção no tratamento da água. Devido a limitações analíticas e financeiras, o monitoramento rotineiro desses organismos é impraticável e por isso há necessidade do emprego de outras variáveis indicadoras da eficiência do tratamento na remoção de protozoários. Para tanto, tradicionalmente se utiliza a turbidez, dada sua natureza associada a partículas em suspensão e facilidade de medição, mas outros indicadores têm sido testados, com destaque para os esporos de bactérias aeróbias (EBA), que possuem tamanho médio e potencial zeta semelhantes aos dos cistos e oocistos e elevada resistência à cloração. Assim, este é o contexto e o objetivo central do presente trabalho: o monitoramento de EBA ao longo do processo de tratamento em ciclo completo de duas estações de tratamento de água em Viçosa-MG, e sua avaliação como variável indicadora da remoção de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium. O monitoramento se deu de novembro de 2015 a julho de 2016, sendo coletadas nos mesmos dias, nas duas ETAs, amostras de água bruta, decantada, filtrada e clorada; no total, foram coletadas 25 e 19 amostras nas ETAs I e II, respectivamente, as quais foram analisadas para EBA e turbidez. As remoções de cistos de Giardia e de oocistos e Cryptosporidium foram estimadas com base em equações empíricas de literatura que as relacionam com a remoção de turbidez. Dos resultados obtidos, destaca-se que: (i) a remoção média de EBA na decantação, na filtração e na cloração foi, respectivamente, 0,77 log, 1,10 log e 0,54 log na ETA I e, na ETA II, 1,17 log, 1,34 log e 0,31 log; (ii) a remoção de turbidez no ciclo de clarificação (decantação+filtração) foi, em média, inferior à de EBA – 1,83 log na ETA I e 2,59 log na ETA II; (iii) as estimativas de remoção média de cistos de Giardia (2,63 log) e de oocistos de Cryptosporidium (2,14 log) foram superiores à remoção observada de EBA. Em geral, os resultados apontam que: (i) a remoção de EBA ocorreu de maneira consistente ao longo das etapas de tratamento da água; (ii) a remoção mais efetiva se deu nas etapas de clarificação; (iii) os EBA mostraram elevada resistência à desinfecção. Conclui-se, confirmando indicações anteriores de literatura, que a remoção de EBA possa ser utilizada como estimativa conservadora da remoção de (oo)cistos de Giardia e Cryptosporidium ao longo das etapas de clarificação no tratamento de água em ciclo completo. Infere-se, ainda, pela elevada resistência à cloração apresentada pelos EBA, que a inativação de EBA apresente potencial de indicador da inativação de cistos de Giardia. |