Resumo |
Na obra Bach, do autor português contemporâneo Pedro Eiras, publicada em 2014, visualizamos o resgate de 13 personalidades históricas que têm suas experiências invocadas a fim de contar a vida do músico alemão Johann Sebastian Bach. Estas experiências são imaginadas pelo autor, porém baseadas em intertextos históricos. A tessitura destas experiências com Bach e sua música dão luz a um texto que não conhece categorização, dando voz não ao grande nome da música clássica, mas aos que fizeram sua história, direta ou indiretamente. É bastante clara a presença do passado na obra, sendo este um recurso recorrente nas obras da pós-modernidade, não se manifestando como um simples pano de fundo, mas como uma tentativa de expandir o significado da matéria histórica, trazendo-a aos nossos dias e, por vezes, modificando-a. A matéria histórica está na obra através dos vários intertextos usados na composição de cada capítulo, e, estes intertextos nos são apresentados no final do livro, para que o leitor possa questionar-se e refletir acerca do que é ou não fruto da imaginação do autor. A intertextualidade pós-moderna de Eiras aparece como uma tentativa de redução da distância entre o passado daqueles que se apropria e o presente daquele que escreve e de quem lê – com a presença constante de verossimilhança interna e externa à obra. Entre os 14 capítulos disponíveis na obra (um deles com páginas em branco, sem referir-se, especificamente, a nenhuma personalidade histórica), elegemos o capítulo intitulado “Etty Hillesum – 1943” como capítulo exemplar para a análise da construção artística que entrelaça história e literatura, resultando em um texto ímpar. Etty Hillesum foi uma jovem judia que registrou em diários sua experiência de aproximação com Deus durante a Segunda Guerra Mundial. Seus registros encerram-se pouco antes de ir, de trem, para Auschwitz. No capítulo de Bach acompanhamos uma prece ficcional de Etty no trem, passando por Leipzig, cidade onde Bach escreveu inúmeras obras, e sentindo uma força sobrenatural tomar conta de si. Através da leitura da obra Bach somada às leituras de Linda Hutcheon, teórica do pós-modernismo, e de textos de Belmira Magalhães, Andreas Huyssen e Maurice Halbwachs, analisamos a construção do texto de Pedro Eiras com o auxílio da História e os novos diálogos que a modernidade proporcionou. |