Resumo |
O poeta João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999) nasceu no Recife, mas viveu parte da infância no interior, nos engenhos de açúcar pertencentes à sua família. Como escritor, pertenceu a dita “geração modernista de 45” e publicou obras consagradas pela crítica brasileira, tais como Cão sem plumas, O rio e Morte e vida severina. Profissionalmente, exerceu carreira como diplomata, o que possibilitou contato direto com diversas culturas, línguas e literaturas. Tem sido considerado pelos estudiosos de sua obra um poeta-crítico, pois, além de ter produzido ensaios críticos importantes, em sua produção poética dialoga criticamente com outras artes e artistas. O trabalho apresentado iniciou-se em março de 2016 e faz parte de um projeto de pesquisa que está em andamento, financiado pela Fapemig. Nosso objetivo geral é a análise do poema O Rio, a par da leitura sistemática das entrevistas do poeta publicadas na imprensa pernambucana nos 1950, disponíveis na hemeroteca digital, pois estas podem contribuir para aprofundar a discussão sobre uma possível visão marxista do escritor, algumas vezes aventada pela crítica. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica em ciências humanas e sociais, a envolver leitura minuciosa das fontes bibliográficas, estudo da teoria literária (a lírica moderna), levantamento de dados, análise e discussão crítica. No contexto em questão, o Brasil estava sob o comando do segundo mandato varguista, sofria com os efeitos da guerra fria e a arte era influenciada pelo realismo-socialismo. Em meio a esse contexto, foi aberto, em 1952, um inquérito no Itamaraty contra João Cabral, acusando-o de práticas subversivas. Tal acusação adveio de uma carta interceptada do poeta ao amigo e diplomata Paulo Cotrim, requisitando um artigo para a revista do Partido Trabalhista Inglês. O fato teve repercussão midiática através do opositor ao governo Vargas, Carlos Lacerda. João Cabral em meio às investigações, fica em disponibilidade por dois anos sem direito a remuneração. Esse período é de intensa produção literária e crítica e, entre outros textos de destaque, produz um poema narrativo sobre o rio Capibaribe, intitulado O rio ou a relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife. Nota-se na poética de João Cabral, juntamente com seu trabalho como crítico, um poeta que rompe com o abstracionismo na arte, trazendo uma linguagem imagética ao leitor. Ele compõe em O rio um poema sobre realidade social, usando a linguagem literária como denúncia à condição social do nordestino, exercendo o que considerou ser um ideal: escrever sobre aquilo do qual é próximo de maneira objetiva e sem floreios. |